As doenças meningocócicas são infecções graves causadas pela bactéria Neisseria meningitidis, também conhecida como meningococo. Elas podem resultar em meningite, uma inflamação das membranas que revestem o cérebro e a medula espinhal, ou em septicemia, uma infecção generalizada no sangue. Ambas as condições são emergências médicas e podem levar a complicações graves, como danos cerebrais, amputações e até mesmo a morte, se não forem tratadas rapidamente.
De acordo com a farmacêutica Ana Medina, a meningite meningocócica é comumente associada a crianças, mas, na realidade, pode afetar pessoas de todas as idades. “Os principais acometidos pela doença são, de fato, os menores de 5 anos. Porém, temos registrado um novo pico da doença entre os adolescentes, e isso merece atenção, já que os jovens, além de serem acometidos pela doença, são importantes agentes na transmissão da meningite meningocócica”.
A meningite é uma preocupação constante na saúde pública brasileira, apresentando um padrão sazonal característico. Apesar de ocorrer ao longo de todo o ano, a incidência de meningite bacteriana tende a ser maior durante os meses mais frios, enquanto os casos de meningite viral se concentram nos períodos mais quentes. Essa variação sazonal está relacionada a fatores como aglomerações, condições climáticas e a maior vulnerabilidade do sistema imunológico em determinadas épocas do ano. A compreensão desse padrão é fundamental para a implementação de medidas de prevenção e controle efetivas, como campanhas de vacinação intensificadas nos períodos de maior risco.
Em 2023, o Brasil registrou um total de 8.877 casos de meningite, resultando em 886 mortes, conforme os dados divulgados pelo Ministério da Saúde. Esses números ressaltam a gravidade da doença e a importância de continuar investindo em campanhas de prevenção, diagnóstico precoce e tratamento adequado para reduzir a incidência e os impactos fatais da meningite na população.
O que são doenças meningocócicas?
Existem dois tipos de doença meningocócica: meningite bacteriana e septicemia. Ambas são altamente perigosas e exigem tratamento médico imediato.
Meningite bacteriana
Ocorre quando a bactéria Neisseria meningitidis infecta as membranas que envolvem o cérebro e a medula espinhal. Isso causa inflamação e, se não tratada rapidamente, pode resultar em danos cerebrais permanentes, surdez, paralisia ou até a morte.
Septicemia meningocócica
Também chamada de Sepse, é uma infecção generalizada na corrente sanguínea que pode levar à falência de órgãos e coagulação anormal do sangue. Ela é geralmente mais letal do que a meningite e pode causar a morte em poucas horas.
Sintomas das doenças meningocócicas
Os sinais de doenças meningocócicas podem aparecer rapidamente e podem ser confundidos com outras doenças, como a gripe. Isso torna crucial que os pais saibam reconhecer os sinais de alerta.
Ainda segundo a farmacêutica Ana Medina, a doença inicialmente apresenta sintomas pouco específicos e muito parecidos com os de outras doenças, o que pode dificultar o diagnóstico precoce. “É essencial ficar atento e, diante de uma piora do quadro ou aparecimento de outros sinais, é preciso procurar um atendimento médico o mais rápido possível. Sem o tratamento adequado, há um maior risco de evolução da doença para quadros mais graves, como convulsões, confusão mental, falência dos órgãos e até óbito. O grande desafio é a rápida progressão desses sintomas, que podem ocorrer em um período de 24 a 48 horas”.
Os sintomas variam entre os tipos de doenças meningocócicas. Os principais são:
Sintomas da Meningite:
- Mal-estar
- Náusea
- Vômito
- Fotofobia (aumento da sensibilidade à luz)
- Confusão mental
Com o passar do tempo, alguns sintomas mais graves de meningite bacteriana podem aparecer, como: convulsões, delírio, tremores e coma
Sintomas de Septicemia:
- Febre alta ou hipotermia
- Calafrios
- Baixa produção de urina
- Respiração acelerada dificuldade para respirar
- Ritmo cardíaco acelerado
- Agitação
- Confusão mental
Nos bebês e crianças pequenas, os sinais podem ser mais difíceis de identificar, incluindo irritabilidade, choro agudo, falta de apetite, dificuldade para acordar e moleira tensa ou inchada. A doença meningocócica pode evoluir rapidamente, com sintomas graves aparecendo em questão de horas.
Além disso, é importante que os pais estejam atentos aos sinais de complicações tardias, como dificuldades de audição, problemas de aprendizado e alterações comportamentais. O acompanhamento médico regular e a participação em programas de reabilitação são essenciais para garantir que a criança tenha a melhor recuperação possível.
Transmissão da doença meningocócica
Agora que entendemos o que são doenças meningocócicas e os seus sintomas, precisamos falar sobre as formas de transmissão.
A meningite pode ser causada por diversos agentes infecciosos, incluindo parasitas, fungos, vírus e bactérias, sendo esta última a forma mais grave da doença. Neste caso, a transmissão ocorre principalmente de pessoa para pessoa por meio de gotículas respiratórias e secreções do nariz e da garganta. Indivíduos podem ser portadores dessas bactérias sem manifestar sintomas, mas ainda assim disseminá-las para outras pessoas.
Cerca de 10% dos adolescentes e adultos são portadores assintomáticos do meningococo na garganta, podendo transmitir a bactéria sem manifestar a doença.A meningite meningocócica não apresenta um padrão de transmissão. Embora crianças menores de cinco anos sejam as mais vulneráveis à doença, os adolescentes e adultos jovens desempenham um papel crucial na sua disseminação. Isso se deve ao fato de que, nessa faixa etária, a infecção por meningococo frequentemente ocorre de forma assintomática, sem causar sintomas aparentes. Essas pessoas, portadoras da bactéria na nasofaringe, podem transmitir a doença para outros indivíduos, contribuindo para a circulação do agente infeccioso na comunidade.
Já a sepse é uma resposta inflamatória grave do organismo a uma infecção, podendo causar disfunção ou falência de múltiplos órgãos. Embora a infecção possa estar localizada, como no pulmão, o corpo reage de forma generalizada.
Tratamento
O tratamento para doenças meningocócicas deve ser iniciado logo que se tem o diagnóstico, dada a rapidez com que a doença pode evoluir, o diagnóstico precoce é fundamental.
Devido à gravidade da meningite, casos suspeitos exigem internação imediata para avaliação e tratamento hospitalar. No caso de meningites bacterianas, o tratamento envolve antibioticoterapia, com medicamentos e doses ajustados pelos médicos responsáveis. Além disso, cuidados de suporte, como reposição de líquidos, são essenciais.
A meningite meningocócica é uma doença grave, com alta taxa de mortalidade, que varia de 10% a 20%, podendo chegar a 70% nos casos de infecção generalizada. Além disso, os sobreviventes frequentemente enfrentam sequelas significativas, como perda da audição, visão, danos neurológicos e amputações. A gravidade da doença exige tratamento imediato e intensivo em uma Unidade de Terapia Intensiva, com o uso de antibióticos e outras medidas de suporte para manter o organismo estável.
O professor e pediatra Dr. Marco Aurélio Palazzi Sáfadi explica que, ao ser diagnosticado um caso de doença meningocócica, é preciso rastrear os contatos próximos da pessoa infectada para que recebam medicação preventiva com antibióticos. Isso se deve ao fato de que muitos portadores da bactéria não manifestam sintomas da doença, mas ainda assim podem transmiti-la para outras pessoas. Nos casos de septicemia, o início imediato do tratamento é crucial no controle da sepse e suas complicações, que geralmente requerem acompanhamento em unidades de terapia intensiva. Assim que a sepse é identificada, antibióticos de amplo espectro são administrados por via intravenosa, mesmo antes de se confirmar o agente infeccioso, visando cobrir uma variedade de bactérias. Medicamentos vasopressores são usados para estabilizar a pressão arterial quando a reposição de líquidos não é suficiente, e em casos mais graves, medidas de suporte como hemodiálise e ventilação mecânica podem ser necessárias para tratar a insuficiência renal e respiratória.
Prevenção: o papel fundamental da vacinação
A maneira mais eficaz de proteger as crianças contra a doença meningocócica é a vacinação. No Brasil, o Programa Nacional de Imunizações (PNI) oferece a vacina contra o meningococo C como parte do calendário vacinal infantil, além de disponibilizar a vacina meningocócica ACWY para adolescentes.
Em 2023, a cobertura vacinal contra a meningite meningocócica tipo C atingiu 75,4% do público-alvo, conforme dados do PNI. Esse número representa uma queda em comparação a 2022, quando 78,6% da população foi vacinada, ainda distante da meta de 95% estipulada pelo Programa.
A vacina meningocócica C, disponibilizada gratuitamente pelo SUS, é fundamental para prevenir essa grave infecção, e a redução na adesão reforça a necessidade de campanhas de conscientização para aumentar a proteção da população.
Tipos de Vacinas Disponíveis
- Vacina Meningocócica C: Protege contra o sorogrupo C.
- Vacina Meningocócica ACWY: Protege contra os sorogrupos A, C, W e Y.
- Vacina Penta: Protege contra a meningite causada pela bactéria Haemophilus influenzae B, além de difteria, tétano, coqueluche e hepatite B.
- Vacina Pneumocócica 10-Valente: Protege contra os 10 principais sorotipos.
Existem vacinas para meningococo dos tipos B e 135, contudo, só estão disponíveis na rede privada.
Desde a implementação das campanhas de vacinação, o Brasil registrou uma redução significativa no número de casos de meningite de todos os tipos, com uma queda de quase três vezes no total de ocorrências e uma diminuição de quase quatro vezes nos casos do tipo C.
Atualmente, o sorogrupo B é o mais predominante entre as crianças, enquanto, em todas as faixas etárias, ocupa a segunda posição, apenas atrás do tipo C e à frente dos sorogrupos W e Y. Importante ressaltar que o tipo A não é mais registrado no país, refletindo o sucesso das estratégias de prevenção e controle da doença.
A farmacêutica Ana Medina ressalta também que a vacinação é a principal estratégia para prevenir a meningite meningocócica. “Além de evitar os casos, em muitas situações a vacinação da população diminui a circulação da bactéria. Então, é importante tanto para proteção individual quanto em alguns casos para proteção coletiva também”, afirma.
A vacinação emerge como a principal estratégia para o controle da meningite, segundo a especialista Eliane Matos dos Santos, médica de Bio-Manguinhos/Fiocruz. “É a forma mais eficaz na prevenção da doença. As vacinas são seguras e utilizadas na rotina para imunização e para controle de surtos” afirma.
Atuação da Fiocruz
O Brasil conta com uma rede de instituições dedicadas ao estudo e combate de doenças infecciosas, como a meningite. O Laboratório de Epidemiologia e Sistemática Molecular do IOC/Fiocruz, por exemplo, concentra seus esforços em pesquisas de campo e laboratório para entender a disseminação de bactérias causadoras de meningite aguda, além de investigar a resistência a antibióticos e desenvolver ferramentas moleculares para diagnóstico preciso.
Paralelamente, o Laboratório de Enterovírus do IOC dedica-se ao estudo de vírus que afetam o sistema nervoso central, como os causadores de meningites virais. A produção de vacinas contra essas doenças também é uma prioridade no país.
O Bio-Manguinhos, por sua vez, é responsável pela fabricação da vacina meningocócica AC e da vacina pneumocócica 10-valente conjugada, ambas incluídas no calendário vacinal brasileiro, o que demonstra o compromisso do país em prevenir e controlar essas doenças.
Considerações finais
As doenças meningocócicas são uma condição extremamente grave que pode afetar rapidamente a saúde das crianças, muitas vezes com consequências devastadoras.
No entanto, com a vacinação e a conscientização sobre os sintomas e fatores de risco, é possível reduzir significativamente o número de casos e proteger a saúde infantil.
Os pais desempenham um papel crucial na prevenção da doença, seja garantindo que seus filhos estejam vacinados.
Em caso de suspeita de doença meningocócica, é preciso buscar atendimento médico imediato pode salvar vidas. A rapidez na identificação e no tratamento para doenças meningocócicas é fundamental para minimizar os danos e aumentar as chances de uma recuperação completa.
Com informações precisas e atitudes preventivas, é possível reduzir os riscos e proteger as crianças contra as graves consequências da doença meningocócica.
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