Mais da metade dos brasileiros têm tendência genética para desenvolver intolerância à lactose, aponta o levantamento “O perfil do DNA do brasileiro na saúde e bem-estar”, realizado pelo laboratório Genera.
Mais comum do que se imagina, ela também pode atingir crianças e bebês, não se restringindo apenas a adultos. Sendo assim, tanto a intolerância à lactose em crianças quanto a intolerância à lactose em bebês podem ser tratadas com diagnóstico e tratamento apropriados quando descobertas.
Em casos de suspeitas, é importante que pais e responsáveis não façam uma avaliação por conta própria da dieta do filho, porque o corte de leite e derivados sem a substituição por outros alimentos ricos em nutrientes essenciais, pode ser prejudicial para a saúde.
Portanto, neste guia vamos dialogar com aquelas pessoas que passam por essa situação e têm dúvidas sobre o tema, incluindo sintomas, soluções, alimentação e como é feito o exame de intolerância à lactose em bebê e criança.
O que é intolerância à lactose?
Para começar, é fundamental compreender que a lactose é um carboidrato de origem animal, presente no leite de mamíferos, como vacas e cabras, e em produtos lácteos. Ela é formada pela união de duas moléculas: galactose e glicose. Essa combinação resulta em um tipo de açúcar que dá origem ao nome do carboidrato.
A intolerância à lactose é considerada uma condição ou distúrbio digestivo, associada à baixa ou à ausência de produção de lactase pelo intestino delgado. A lactase é uma enzima produzida nesse intestino, responsável por quebrar o açúcar do leite no organismo.
Portanto, quando a criança não produz lactase, a lactose chega intacta ao intestino, provocando diversos sintomas que podem variar de leves a severos.
Quais são os tipos e os sintomas de intolerância à lactose em crianças?
A pessoa com intolerância à lactose não produz lactase de forma suficiente, e isso é um fato. A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) destaca três tipos diferentes dessa intolerância alimentar:
- Hipolactasia do “tipo adulto”: é a forma mais comum que existe no Brasil, ocorrendo com a diminuição da produção de lactase ao longo do tempo. Essa condição é hereditária e afeta pessoas com predisposição genética;
- Congênita: é a mais rara entre os três tipos de intolerância à lactose. O bebê já nasce sem a produção da enzima lactase;
- Secundária: ocorre devido a outras condições que causam modificações e danos na mucosa intestinal, como a doença celíaca, a doença de Crohn, enterite infecciosa e desnutrição.
É fundamental que pais e responsáveis entendam as causas da intolerância à lactose em bebê e nas crianças, pois isso contribui na busca por opções alimentares seguras e a garantir o bem-estar dos pequenos. No entanto, isso deve ser feito sob a orientação de um profissional da saúde, como um pediatra ou nutricionista.
Quais são os sintomas de intolerância à lactose em crianças?
Em relação aos sintomas, quem deseja identificar essa condição precisa estar atento aos sinais causados nas crianças. De acordo com a SBP, os sintomas variam de pessoa para pessoa, dependendo da quantidade de lactose consumida, do grau de deficiência de lactase e do tipo com o qual a lactose foi consumida. Os principais sintomas incluem os seguintes:
- Dor abdominal;
- Borborigmo;
- Distensão abdominal;
- Flatulência;
- Diarreia aquosa explosiva
- Dermatite perianal;
- Desidratação e acidose metabólica em casos mais graves.
Para garantir o bem-estar da criança, é necessário um diagnóstico preciso e a adoção de um plano alimentar adequado para a situação dele.
Como é feito o diagnóstico de intolerância a lactose em crianças?
Os sintomas de intolerância à lactose em crianças podem levantar dúvidas. Nesse e em todos os casos, é recomendado consultar um médico para obter o diagnóstico exato. Existem quatro formas para diagnosticá-la, confira:
- Métodos clínicos: é o procedimento mais aplicado no Brasil. Todos os alimentos que contêm lactose são retirados da alimentação da criança por um período, enquanto os sintomas são monitorados, permitindo assim o diagnóstico adequado;
- Teste respiratório de hidrogênio expirado: mede a quantidade de hidrogênio eliminado na expiração após o paciente ter ingerido doses altas de lactose;
- Teste de tolerância à lactose: é realizado em jejum, onde o paciente ingere uma dose de lactose e, em seguida, é feita a colheita de sangue para medir os níveis de glicose. Segundo a SBP, “pessoas sem esta doença apresentam elevação da glicemia a valores maiores que 20 mg/dL em relação ao jejum. Estas variações não são observadas nos intolerantes”;
- Teste genético: feito em casos de suspeita de intolerância primária ou congênita à lactose. O exame ocorre por meio da coleta de uma amostra de sangue ou de um raspado da mucosa bucal.
Se a curiosidade sobre como é feito o exame de intolerância à lactose em bebê e criança ainda persiste, vale a pena consultar o pediatra do seu filho.
Alergia ao leite X Intolerância à Lactose
Talvez essa seja a dúvida de muitos: a alergia ao leite de vaca e a intolerância à lactose são a mesma coisa? A resposta é não; são condições diferentes!
Já discutimos o que é a lactose e como ela provoca a intolerância, mas é sempre bom relembrar:
Intolerância à lactose
A intolerância à lactose consiste na incapacidade do corpo de digerir o açúcar do leite (lactose) por causa da falta ou deficiência da enzima lactase. Ao contrário da alergia ao leite, que provoca reações alérgicas, a intolerância à lactose causa apenas sintomas de desconforto abdominal, cólicas, entre outros.
Com o diagnóstico confirmado e as dúvidas em relação a intolerância e alergia sanadas, é hora de buscar os melhores tratamentos para intolerância à lactose.
Alergia ao leite
Envolve a proteína, não a lactose que é um carboidrato. Quando essa proteína atravessa a barreira mucosa do intestino delgado e entra na corrente sanguínea, pode causar diversas manifestações alérgicas. Dentre elas, estão sintomas digestivos, como evacuações amolecidas, sangue nas fezes, vômitos ou baixo ganho de peso. Além disso, podem ocorrer reações em outros aparelhos e sistemas, como urticária, eczema ou, em casos mais graves, choque anafilático.
Com o diagnóstico confirmado e as dúvidas em relação sobre intolerância e alergia sanadas, é hora de buscar os melhores tratamentos para intolerância à lactose.
Existe solução para essa condição?
Seja como você chamar, soluções ou tratamentos para intolerância à lactose, o fato é que há maneiras eficazes para cuidar das crianças lactosensíveis. Por não ser considerada uma doença, mas um distúrbio digestivo, a intolerância à lactose pode ser tratada com um plano alimentar apropriado e medicamentos.
- Tratamento: consiste na reeducação alimentar, onde se recomenda reduzir a ingestão de alimentos com lactose. Isso significa que, quanto mais intolerante a pessoa for, menor deve ser a quantidade de açúcar ingerida.
Atualmente, o mercado oferece produtos com redução de 80% a 90% da lactose, além de alternativas com zero lactose. Você pode estar se perguntando: ‘Ah, mas não é possível tomar remédios?
- Medicamentos: a ingestão da enzima lactase deve ser feita em casos especiais. A enzima lactase, vendida em farmácias, pode ser encontrada em pó, pílulas ou líquido e deve ser ingerida logo antes das refeições para auxiliar na digestão da lactose. Ressalta-se que sua prescrição deve ser feita com acompanhamento médico.
Opções alimentares adequadas e inadequadas para intolerantes à lactose
A redução da lactose na alimentação é parte da rotina de crianças lactosensíveis. Para ajudar a esclarecer quais produtos podem ou não ser consumidos, o Grupo de Assistência Multidisciplinar em Estomias e Doença Inflamatória Intestinal (ASSOCIAÇÃO GAMEDII) montou uma lista que você pode conferir agora:
Alimentos a serem evitados pelos lactosensíveis
- Leite de vaca, leite condensado, creme de leite, chantilly;
- Pães, bolos e biscoitos recheados à base de leite;
- Chocolates comuns, sorvete, pudins;
- Purês, tortas, preparações com creme branco, sopas cremosas;
- Margarina, manteiga, iogurtes, requeijão, queijos, todos os derivados do leite.
Alimentos permitidos
- Pães e biscoitos à base de água ou soja;
- Chocolate à base de soja;
- Todas as frutas, verduras e legumes;
- Carnes de boi, aves, porco, peixe e frutos do mar;
- Gelatinas ou doces à base de soja;
- Queijo de soja (tofú) e leite de soja;
- Carne de soja (proteína texturizada de soja);
- Sucos industrializados à base de soja.
Recomendação
De acordo com a ASSOCIAÇÃO GAMEDII, pequenas quantidades de leite de vaca e seus derivados geralmente são bem toleradas. Assim, é permitido o consumo de alimentos que contenham um pouco de leite. No entanto, é importante observar como o organismo reage a esses alimentos. É essencial garantir que não ocorram sintomas prejudiciais à criança.
Além disso, é essencial ler sempre os rótulos dos alimentos antes de consumi-los. Nos rótulos, você pode verificar se há leite em sua composição ou se o produto não contém lactose.
Perguntas & Respostas
1. O que são alimentos adequados para dietas com restrição de lactose?
São classificados como alimentos para fins especiais porque foram especialmente processados para eliminar ou reduzir a lactose. Dessa forma, tornam-se consumíveis para aqueles que têm intolerância à lactose. Exemplos incluem iogurtes, queijos e leites que passaram por esse processamento para reduzir o teor de lactose.
Esses alimentos são classificados em:
- Isentos de lactose: a quantidade de açúcar é igual ou menor do que 100 mg por 100 g ou ml do alimento pronto para o consumo, conforme instruções de preparo do fabricante;
- Baixo teor de lactose: a quantidade deste açúcar for superior a 100 mg e inferior ou igual a 1 g por 100 g ou ml do alimento pronto, segundo instruções de preparo do fabricante.
2. Alimentos e bebidas isentos de lactose podem ser considerados adequados para dietas com restrição de lactose?
De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), os alimentos e bebidas que naturalmente não contêm lactose, como frutas, sucos, carnes e cereais, assim como produtos processados com ingredientes que naturalmente não possuem esse açúcar, como bebidas à base de soja, bolos e biscoitos, não foram especialmente preparados para eliminar a lactose.
3. Produtos lácteos naturalmente isentos ou baixos em lactose podem ser utilizados como alimentos para dietas com restrição de lactose?
O manual da Anvisa explica que os produtos lácteos que, devido ao seu processamento convencional, são naturalmente baixos em lactose, como queijos de longa maturação, não foram especialmente produzidos para eliminar ou reduzir o teor deste açúcar.
Curiosidade sobre lactose
Hoje em dia, é comum ouvir alguém dizer que sofre de intolerância à lactose. A cada dia, novas descobertas são feitas por aqueles que convivem com essa condição. Pensando nisso, separamos algumas curiosidades sobre a lactose. Confira:
- Queijos mais amarelos e duros têm menos lactose do que os brancos;
- A prevalência da intolerância à lactose muda conforme a etnia;
- É possível voltar a consumir lactose depois do tratamento (em quantidades reduzidas e desde que não provoque sintomas);
- Nem todos os produtos lácteos contêm lactose;
- O iogurte tem uma redução de 20% a 30% no teor de lactose em relação ao leite;
- Lactose pode ser encontrada em alimentos não lácteos;
- Pessoas com intolerância à lactose devem fazer suplementação de cálcio;
- Bebês podem ser intolerantes à lactose, não podendo consumir leite materno;
- Leite de soja, de arroz, de aveia não contém lactose;
- Verduras de folhas verdes, como brócolis, couves, agrião, couve-flor e espinafre funcionam como fontes de cálcio;
- Alguns remédios incluem lactose em sua fórmula;
- Quem tem intolerância à lactose pode comer ovo.
Regulamenta sobre produtos que contêm lactose
Foi a partir da Lei nº 13.305/2016 que medidas regulatórias sobre rotulagem de lactose em alimentos foram implementadas. Essa lei adicionou ao art. 19-A ao Decreto-Lei nº 986/1969 a obrigatoriedade da indicação da lactose no rótulo de alimentos, garantindo que os portadores dessa condição tivessem acesso a informações antes de comprar um produto.
Além de especificar se o produto contém lactose, a lei também determinou informar o teor de lactose remanescente nos rótulos de alimentos que tiveram o teor da lactose alterado.
No entanto, há mais atos que tratam da rotulagem de lactose:
- RDC nº 715/2022: específica a as regras de composição e rotulagem dos alimentos para dietas com restrição de lactose;
- RDC nº 727/2022: estabelece as regras para declaração obrigatória da presença de lactose na rotulagem dos alimentos
- RDC nº 429/2020: estabelece regras para rotulagem nutricional de produtos que incluem lactose, além de definir os critérios para informar a ausência dela.
- IN nº 75/2020: complementa a RDC acima, detalhando protocolos para a rotulagem nutricional. Ela inclui as definições e critérios para explicar sobre a presença ou ausência de lactose.
- Projeto de Lei 4204/202: Aguardando Designação de Relator(a) na Comissão de Saúde (CSAUDE). Esse PL quer tornar obrigatória a distribuição gratuita e contínua de leite sem lactose, com proteína hidrolisada ou livre de aminoácidos para crianças de até 4 anos que tenham alergia ou intolerância a proteínas do leite comum.
Conclusão
Por não ser considerada doença, não existem orientações de prevenção para a intolerância à lactose. O que existe é uma alimentação restritiva e medicamentos a serem consumidos em casos necessários. Além disso, é importante procurar avaliação médica, pois a intolerância à lactose em bebê requer atenção e cuidados.
Nessa fase, é fundamental que o pequeno consuma todos os nutrientes necessários para um bom desenvolvimento do corpo. Ressalta-se que uma dieta pobre em leite e derivados e sem a substituição ou complementação adequada, pode predispor o pequeno a uma mineralização óssea inadequada.
Para que as pessoas tenham informações adequadas sobre os produtos a serem consumidos e garantam o bem-estar de pessoas lactossensíveis, ao longo dos anos foram criadas normativas que informam os consumidores no momento da compra. Certamente, você já leu no rótulo de um produto: ‘Contém lactose’ ou ‘Zero lactose’; isso é resultado das normas estabelecidas pelos órgãos competentes.
Por fim, é possível tratar a intolerância à lactose em crianças e obter resultados saudáveis. Embora isso possa parecer repetitivo, é fundamental enfatizar a importância do acompanhamento médico, com consultas regulares e monitoramento da saúde da criança.
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