Sinais de alerta: quando chupar dedo se torna um problema

O hábito de chupar dedo é comum nos primeiros anos de vida, e muitos pais se perguntam se isso pode causar algum prejuízo. No entanto, embora seja uma prática reconfortante e natural, em alguns casos, chupar o dedo pode se transformar em um problema a longo prazo, tanto para a saúde bucal quanto para o desenvolvimento emocional e social da criança.

Segundo Elsa Giugliani, pediatra com doutorado em Saúde da Criança e do Adolescente, “colocar o dedo na boca é natural na fase em que o bebê vai descobrindo as mãos, e a imensa maioria abandona o hábito depois de um ano.”

O reflexo de sucção é uma ação natural para os bebês que começa ainda no útero, quando é possível observar em ultrassonografias que o feto pode chupar o polegar. De acordo com a fonoaudióloga Cristiane Tanigute, “a sucção é um ato reflexo dos primeiros meses de vida, função vital para o bebê, tendo início na gestação, aproximadamente na 29º semana, sendo que o seu amadurecimento ocorrerá até a 32º semana de vida uterina, dando condições ao bebê de sugar o seio materno para sua alimentação e sobrevivência”. Segundo a especialista, o hábito de chupar o dedo pode servir como uma forma de compensação emocional para o bebê. Quando a saciedade da fome é alcançada antes que a necessidade de sugar seja completamente atendida, o bebê pode recorrer ao dedo para conforto e segurança. 

Para a dentista Alessandra Melazo Dias, especialista em Ortodontia da clínica IGM, chupar o dedo, ao contrário do uso da chupeta, não requer um estímulo externo, pois é um comportamento intuitivo. No entanto, quando o hábito se prolonga por muito tempo, geralmente após os 4 anos de idade, pode prejudicar o desenvolvimento craniofacial.

É importante entender que, em bebês e crianças pequenas, chupar o dedo não é, em princípio, um problema. Muitos desenvolvem essa prática como uma forma de aliviar a ansiedade e o desconforto, como durante o nascimento dos dentes, por exemplo. A maioria dos especialistas considera esse comportamento normal e aceitável até os dois ou três anos de idade. 

No entanto, quando a prática de chupar o dedo continua após essa idade, os pais e cuidadores devem começar a observar o desenvolvimento da criança para identificar se o hábito está se tornando um problema.Neste artigo, abordaremos os prejuízos associados ao hábito de chupar o dedo, que pode impactar a saúde bucal, o desenvolvimento emocional e social das crianças. Além disso, discutiremos estratégias eficazes sobre como fazer a criança parar de chupar dedo, oferecendo orientações práticas e positivas para ajudar os pais e cuidadores a lidarem com essa situação de forma compreensiva e eficaz.

Quando chupar dedo é prejudicial?

Para os pais preocupados, é importante dizer que o bebê pode chupar dedo sem problemas nos primeiros anos de vida. Mas, embora a maioria das crianças pare de forma espontânea, há casos em que o hábito persiste, resultando em potenciais consequências físicas e emocionais. 

Veja os principais fatores que podem transformar um comportamento natural em algo prejudical.

Impactos na saúde bucal

Um dos maiores problemas associados ao hábito prolongado de chupar o dedo é o impacto na saúde bucal. Quando esse hábito continua durante o crescimento dos dentes permanentes, geralmente por volta dos cinco ou seis anos de idade, pode ocorrer uma série de complicações dentárias, como desalinhamento dentário, mordida aberta e alterações no céu da boca. 

Essas complicações muitas vezes requerem tratamento, o que pode ser um processo demorado para corrigir os problemas causados por essa prática.

Problemas de fala e deglutição

Outro efeito colateral importante é o impacto no desenvolvimento da fala e na deglutição. Crianças que continuam a chupar o dedo após a idade recomendada podem desenvolver dificuldades de articulação, pois o posicionamento inadequado dos dentes e a interferência da língua podem afetar a pronúncia de certos sons.

Além disso, a sucção prolongada pode dificultar o desenvolvimento correto da língua, que desempenha um papel essencial na fala. Isso pode levar a atrasos na fala ou a dificuldades em se comunicar com clareza, prejudicando o desenvolvimento social e escolar da criança.

Impactos no desenvolvimento emocional e social

Além das sequelas físicas, chupar o dedo pode impactar o bem-estar emocional e social da criança. À medida que as crianças crescem e entram na idade escolar, o hábito pode se tornar motivo de constrangimento e levar a provocações ou bullying por parte de colegas. Isso pode afetar a autoestima da criança e dificultar a formação de amizades.

Crianças que continuam a chupar o dedo como uma forma de lidar com o estresse ou a ansiedade podem estar demonstrando a necessidade de mais apoio emocional. É fundamental que os pais e responsáveis reconheçam essa necessidade e ajudem a criança a desenvolver estratégias mais saudáveis para lidar com as emoções.

Infecções

Ao levar as mãos não higienizadas à boca, as crianças expõem-se a uma variedade de bactérias e vírus presentes no ambiente. Um exemplo é a síndrome mão-pé-boca, uma doença contagiosa transmitida justamente pelo contato direto com objetos e alimentos contaminados. 

É importante ressaltar que cada criança é única e o impacto do hábito de chupar o dedo pode variar de caso para caso. Caso você perceba que seu filho ainda chupa o dedo com frequência após os 4 ou 5 anos, é recomendado consultar um especialista para uma avaliação e orientação.

Sinais de alerta: quando procurar ajuda?

Embora não haja uma idade exata para parar de chupar dedo, a fonoaudióloga Cristiane Tanigute indica que o primeiro ano de vida é um marco importante. “Depois disso, pode ocorrer atrasos e alterações de fala, do desenvolvimento e amadurecimento da mastigação e deglutição, de posição dos lábios, causando respiração oral ou mista, e até mesmo problemas na aceitação de determinados alimentos.”

Se o hábito de chupar o dedo persistir ou se houver sinais de impacto na saúde bucal, é importante procurar ajuda de um profissional, como um dentista, ortodontista e/ou fonoaudiólogo. 

A seguir, estão alguns sinais de alerta que indicam a necessidade de intervenção profissional.

Dificuldade em abandonar o hábito

Se a criança parece incapaz de parar de chupar o dedo, mesmo após tentativas repetidas de mudar o comportamento, isso pode indicar que o hábito está profundamente enraizado.

Alterações na dentição

Se os dentes da criança estão se desalinhando, é essencial consultar um ortodontista para avaliar a gravidade da situação.

Problemas de fala

Se a criança apresenta dificuldade em pronunciar certos sons ou tem um atraso no desenvolvimento da fala, pode ser necessário procurar um fonoaudiólogo.

Comportamento ansioso

Se a criança usa o hábito de chupar o dedo como uma forma de lidar com estresse ou ansiedade, isso pode ser um indicativo de que ela precisa de apoio emocional adicional.

Abordagens para abandonar o hábito de chupar o dedo

E como fazer a criança parar de chupar o dedo? Ajudar uma criança a largar esse hábito pode ser um processo desafiador, mas é importante abordar a situação com paciência, empatia e compreensão. As crianças muitas vezes utilizam essa prática como uma forma de conforto, e tentar interrompê-lo bruscamente pode causar mais ansiedade. 

A seguir, estão algumas estratégias para ajudar a criança a abandonar essa prática de forma gradual e saudável:

Tente relacionar o motivo

Conversar com a criança sobre seus sentimentos e medos pode ser o primeiro passo para entender as causas desse hábito. Além disso, manter uma comunicação aberta com a escola pode ajudar a identificar possíveis dificuldades que estejam contribuindo para a ansiedade da criança

Reforço positivo

O reforço positivo é uma das abordagens mais eficazes para ajudar a criança a parar de chupar dedo. Em vez de focar nas consequências negativas de chupar o dedo, os pais podem recompensar a criança sempre que ela conseguir evitar o hábito por um período determinado de tempo. Isso pode ser feito por meio de elogios, recompensas pequenas ou até mesmo a criação de um quadro de metas visuais, onde a criança possa acompanhar seu progresso.

Envolvimento da criança no processo

Envolver a criança no processo de abandonar o hábito pode aumentar seu senso de responsabilidade e motivação. Explicar de forma simples e clara os motivos pelos quais é importante parar de chupar o dedo, como evitar problemas dentários e sociais, pode ajudar a criança a entender a importância da mudança.

Além disso, permitir que a criança escolha métodos para ajudar a abandonar o hábito pode fazer com que ela se sinta mais à vontade e no controle da situação.

Uso de aparelhos

O uso de aparelho para parar de chupar dedo também é uma opção. Pesquisadores da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto (Forp) desenvolveram um aparelho ortodôntico chamado Impedidor de Hábito Fixo (IHF), para impedir que a criança leve o dedo à boca. O professor da Faculdade de Odontologia da Forp José Tarcísio Lima Ferreira e sua equipe utilizam o aparelho desde 2010 para impedir que crianças entre 6 e 12 anos chupem o dedo. O dispositivo bloqueia o espaço entre o céu da boca e a língua, e tem mostrado resultados positivos: 98% das 300 crianças atendidas deixaram o hábito. O professor Fabio Lourenço Romano, também da Forp, destaca que, em cerca de 30 a 40 dias, as crianças já abandonam o hábito, pois o aparelho remove a sensação prazerosa ao chupar o dedo.

Imagem retirada do site Jornal da USP

Apoio emocional e terapia

Para crianças que utilizam o hábito de chupar o dedo como uma forma de lidar com o estresse, a ansiedade ou outras emoções difíceis, pode ser necessário fornecer apoio emocional adicional. Em alguns casos, pode ser recomendada a terapia infantil, onde a criança possa aprender novas maneiras de lidar com suas emoções de forma saudável e sem recorrer ao hábito de chupar o dedo.

Além disso, os pais devem criar um ambiente de apoio e compreensão, mostrando-se disponíveis para conversar e ajudar a criança a enfrentar seus medos e preocupações.

Conclusão: uma abordagem gradual e positiva

O hábito de chupar dedo é comum nos primeiros anos de vida, mas quando persiste, pode afetar a saúde bucal, a fala e o desenvolvimento emocional da criança. Nesse caso, o uso de um aparelho para parar de chupar dedo pode ser uma solução eficaz, ajudando a interromper o comportamento prejudicial.

É fundamental que os pais e cuidadores fiquem atentos aos sinais de alerta e busquem intervenções apropriadas quando necessário.

Ajudar a criança a entender que o bebê pode chupar dedo, mas que esse hábito não deve persistir, requer paciência, empatia e abordagens positivas. Se o hábito estiver relacionado ao estresse ou à ansiedade, é importante fornecer o apoio emocional necessário e considerar a terapia como uma opção.

Ao abordar o problema de forma gradual e com uma atitude encorajadora, os pais podem ajudar seus filhos a desenvolverem comportamentos saudáveis e a superarem o hábito de chupar o dedo, garantindo um futuro com um sorriso saudável e uma autoestima fortalecida.


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