A intoxicação infantil é uma preocupação para pais e cuidadores, uma vez que, especialmente os bebês e crianças pequenas, são mais vulneráveis a substâncias tóxicas. Essa vulnerabilidade ocorre porque as crianças têm menor peso corporal e um metabolismo diferente, o que pode levar a reações mais intensas a substâncias perigosas.
Crianças são curiosas por natureza e, muitas vezes, não conseguem distinguir entre substâncias seguras e perigosas. Esse comportamento, aliado ao fácil acesso a produtos tóxicos em casa, pode resultar em sérias consequências.
Este é um problema de saúde pública grave, ocorrendo quando uma criança ingere, inala ou tem contato com substâncias tóxicas. Essas substâncias podem estar presentes em diversos produtos do dia a dia, como medicamentos, produtos de limpeza, cosméticos, plantas, alimentos e até mesmo em pilhas e baterias.
As consequências podem variar desde sintomas mais leves, como dor de barriga e vômito, até casos mais graves que podem levar à hospitalização e, em alguns casos, ao óbito.
De acordo com a pediatra Cynthia Parras, “o processo parte do contato com substâncias químicas, seja por ingestão, aspiração ou introdução. O componente tóxico pode entrar em contato com a boca ou a pele, como no caso do manuseio inadequado de detergentes, sabão, colas e adesivos.”
Segundo dados da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo (SES-SP), os acidentes mais comuns entre crianças de até 14 anos envolvem intoxicação infantil por medicamentos, produtos de limpeza e alimentos. Em 2023, foram registradas 538 internações hospitalares devido ao uso de remédios, 137 causadas por produtos químicos e 32 relacionadas a alimentos, destacando a importância de manter esses itens fora do alcance das crianças para prevenir acidentes.
Os acidentes de intoxicação infantil não afetam apenas a saúde física das crianças; eles também podem causar um grande impacto emocional nas famílias. O sentimento de culpa e impotência dos pais, combinado com o medo de perder um filho devido a um acidente evitável, pode levar a traumas psicológicos. Buscar orientação sobre o tratamento adequado e o remédio para intoxicação infantil é essencial não só para tratar os sintomas imediatos, mas também para garantir a segurança e o bem-estar da criança no futuro, prevenindo novos acidentes e proporcionando um ambiente mais seguro dentro de casa.
Causas da intoxicação infantil
As causas são diversas e, geralmente, estão relacionadas ao acesso facilitado a substâncias tóxicas no ambiente doméstico. A curiosidade natural das crianças, aliada ao fácil acesso a substâncias tóxicas presentes em muitos lares, torna esse grupo especialmente vulnerável.
Superdosagem de medicamentos
A intoxicação infantil por medicamentos é a mais comum em crianças pequenas. Isso acontece, em parte, porque muitos medicamentos têm cores e formas que podem parecer atrativas, como balas ou doces, para uma criança. Além disso, os pais e responsáveis podem deixar frascos de medicamentos ao alcance dos pequenos, sem perceber os riscos que isso representa. Uma criança, ao ingerir medicamentos de forma inadequada, pode sofrer desde reações alérgicas leves até efeitos colaterais graves, como problemas respiratórios e cardíacos.
Acidentes com produtos de limpeza
Outro grupo de substâncias que frequentemente causa intoxicação infantil por produtos químicos são os produtos de limpeza. Substâncias como alvejantes, detergentes, desinfetantes e amaciantes de roupa, quando ingeridos ou inalados, podem provocar queimaduras internas, problemas respiratórios e intoxicações graves. Em muitos casos, esses produtos são armazenados em locais de fácil acesso, como sob a pia da cozinha ou em prateleiras baixas, sem o devido cuidado com a rotulagem ou o uso de tampas de segurança, aumentando o risco de acidentes com crianças.
Plantas tóxicas
Outro perigo menos conhecido, mas igualmente importante, é o risco de intoxicação por plantas. Muitas famílias têm plantas ornamentais em casa que, embora bonitas, podem ser perigosas se ingeridas por crianças. A ingestão de algumas plantas pode causar desde irritações leves até problemas mais sérios dependendo da espécie e da quantidade ingerida. Ensinar as crianças a não colocar plantas na boca e, ao mesmo tempo, os adultos a identificarem quais plantas podem ser tóxicas, é fundamental para evitar esses tipos de acidentes.
Sinais e sintomas da intoxicação
Os sintomas da intoxicação infantil podem variar dependendo da substância ingerida e da quantidade. É fundamental estar atento aos sintomas para agir rapidamente e buscar ajuda médica. Alguns dos sinais mais comuns incluem:
Dores abdominais
Cólicas, sensação de queimação no estômago, vômitos e diarreia são sintomas frequentes.
Problemas respiratórios
Dificuldade para respirar, tosse, chiado no peito e respiração rápida podem indicar problemas respiratórios.
Alterações neurológicas
Sonolência excessiva, agitação, convulsões, confusão mental, tontura e perda de coordenação são sinais de alerta.
Alterações na pele
Manchas vermelhas, inchaço, queimaduras e erupções cutâneas podem ocorrer em casos de contato com substâncias tóxicas.
Alterações na cor dos lábios
Os lábios podem ficar pálidos, azulados ou avermelhados.
Reconhecer os sinais e sintomas de intoxicação infantil pode salvar vidas. Estar ciente e preparado é crucial para garantir a segurança das crianças.
O que fazer em caso de intoxicação
Apesar de todas as precauções, acidentes podem acontecer. Saber como agir diante de um caso de intoxicação pode salvar vidas. O primeiro passo ao identificar que uma criança ingeriu ou entrou em contato com uma substância tóxica é manter a calma e buscar ajuda médica imediatamente.
Como primeiro passo em caso de intoxicação, é fundamental retirar qualquer resíduo de produtos da boca ou da pele, lavando a área afetada com água corrente. Em seguida, é importante procurar atendimento nas unidades de saúde, levando a embalagem do produto ou parte da planta envolvida, o que pode facilitar a identificação da substância.
A médica toxicologista Andrea Amoras de Magalhães enfatiza a importância de evitar práticas comuns, como induzir o vômito ou administrar leite, pois essas ações podem ser prejudiciais e não são recomendadas. “O tratamento vai depender da gravidade e do que ela ingeriu. Às vezes, pode ter resto de medicamento na boca ou substância derramada na roupa, estar sonolenta, vomitando, ter uma crise convulsiva. O sintoma depende do produto tóxico” alerta Magalhães.
Se você suspeitar que uma criança tenha ingerido alguma substância tóxica, siga estas orientações:
Remover a substância tóxica da boca da criança
Se a criança ainda estiver colocando a substância na boca, remova-a imediatamente.
Entre em contato com o CEATOX
No Brasil, existem os Centros de Assistência Toxicológica (CEATOX), que oferecem orientação por telefone em casos de emergências tóxicas. Ter o número de um centro de toxicologia em fácil acesso pode ser uma medida preventiva essencial.
Não provocar o vômito
Não induzir o vômito a não ser que seja orientado por um profissional de saúde. Em algumas situações, vomitar pode agravar a situação, especialmente se a substância ingerida for corrosiva.
Não automedicar
Embora exista remédio para intoxicação infantil, é importante usar com orientação médica. A ingestão de água ou leite também só deve ser feita se indicada pelo médico ou pelo centro de toxicologia.
Não fazer respiração boca a boca
Evite a manobra caso a criança tenha ingerido a substância.
Levar a criança para o hospital
Mesmo que os sintomas pareçam leves, é importante levar a criança para avaliação médica. Também é essencial que o responsável leve a embalagem do produto, remédio ou planta com a qual houve contato. “O correto é que os pais encaminhem as crianças imediatamente ao pronto-socorro mais próximo ou entrem em contato com os bombeiros, no número 193, que uma equipe irá até o local para prestar os atendimentos necessários”, diz Ricardo Vanzetto, Diretor Geral de Bases Médicas do Estado de São Paulo.
Prevenção
A prevenção é a melhor forma de evitar a intoxicação infantil. Ao tomar algumas precauções simples, você pode proteger seu filho e garantir um ambiente seguro para ele brincar e crescer.
“Estratégias de prevenção sempre serão a primeira linha de ação no intuito de evitar intoxicações”, afirma a pediatra Cynthia Parras.
Armazene produtos tóxicos em locais seguros
Para evitar intoxicação infantil por produtos químicos, mantenha todos os produtos tóxicos fora do alcance das crianças, em armários altos e trancados.
Leia os rótulos dos produtos
Verifique a composição dos produtos e siga as instruções de uso.
Utilize embalagens originais
Nunca transfira produtos tóxicos para embalagens de alimentos ou bebidas.
Ensine as crianças sobre os perigos
Explique às crianças sobre os riscos de ingerir produtos tóxicos e a importância de não colocar nada na boca sem a permissão de um adulto.
Instale travas de segurança
Utilize travas de segurança em armários e gavetas onde são guardados produtos tóxicos.
O Centro de Informação e Assistência Toxicológica (CIATox) recomenda que pais e responsáveis evitem chamar remédios de ‘bala’ e ‘doce’ para não despertar o interesse das crianças. Também é importante que produtos como detergente e água sanitária não sejam armazenados em garrafas de refrigerante, para que não sejam confundidos pelos pequenos.
“Na idade precoce, elas não conseguem diferenciar o que é algo que tenha toxicidade ou não. As embalagens são atrativas, cheias de cores, bonitas e têm cheiro de limão e frutas. Geralmente tem um bebê feliz no rótulo e a criança não enxerga aquilo como perigoso”, aponta a toxicologista Andrea Magalhães.
Disque-Intoxicação
A população e os profissionais de saúde têm à disposição o Disque-Intoxicação, um serviço gratuito criado pela Anvisa que atende pelo número 0800-722-6001. Este canal é parte da Rede Nacional de Centros de Informação e Assistência Toxicológica (Renaciat), composta por 36 Centros de Informação e Assistência Toxicológica (Ciats) distribuídos em 19 estados brasileiros.
Quando o usuário faz uma ligação, ela é direcionada para o centro mais próximo de sua região, onde profissionais especializados oferecem suporte 24 horas por dia, durante todo o ano.
O serviço permite que tanto profissionais de saúde possam saber como proceder em emergências com pacientes intoxicados, quanto pessoas leigas possam buscar informações sobre intoxicações.
O número também deve constar em rótulos de produtos regulados pela Anvisa, além de avisos indicativos em hospitais e clínicas, garantindo uma resposta rápida e eficaz para a população.
Anvisa
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) foi criada pela Lei nº 9.782, de 26 de janeiro de 1999, e é uma autarquia sob regime especial, com sede no Distrito Federal. Sua atuação se estende por todo o território nacional, abrangendo coordenações em portos, aeroportos, fronteiras e recintos alfandegados.
A Anvisa tem como principal objetivo promover a proteção da saúde da população, exercendo um controle sanitário rigoroso sobre a produção e consumo de produtos e serviços que estão sob sua vigilância. Isso inclui a supervisão de ambientes, processos, insumos e tecnologias relacionadas, assegurando que os padrões de qualidade e segurança sejam mantidos. Além disso, a agência desempenha um papel crucial no controle sanitário nas áreas de transporte e comércio internacional, contribuindo para a saúde pública e o bem-estar da sociedade brasileira.
A atuação da Anvisa no combate à intoxicação é essencial para garantir a segurança e a saúde da população. Por meio de regulamentações rigorosas, fiscalização, campanhas de conscientização e parcerias estratégicas, a agência contribui significativamente para a prevenção de intoxicações e para a promoção de um ambiente mais seguro para todos os cidadãos.
Prevenção e educação
A intoxicação infantil é um problema sério que pode ser evitado com medidas simples de prevenção. A maioria dos casos está relacionada ao acesso a medicamentos, produtos de limpeza e substâncias químicas, que muitas vezes são deixados ao alcance das crianças. Por isso, é essencial que pais e responsáveis estejam atentos à organização e ao armazenamento adequado desses itens, sempre fora do alcance dos pequenos.
Além disso, a educação é uma ferramenta poderosa na prevenção de intoxicações. Ensinar as crianças, desde cedo, sobre os perigos de ingerir substâncias desconhecidas, sejam elas plantas, remédios ou produtos de uso doméstico, pode reduzir significativamente os riscos. O envolvimento da escola e da comunidade na disseminação de informações também pode contribuir para reforçar esses cuidados no dia a dia.
Por fim, é preciso estar atento aos sintomas de intoxicação infantil e agir depressa, a rapidez na busca por atendimento médico é crucial para o sucesso do tratamento. Ter sempre em mãos o contato de um centro de toxicologia e agir rapidamente ao identificar os sintomas de intoxicação podem salvar vidas. Com conscientização, cuidado e informação, é possível reduzir os acidentes e proteger a saúde das crianças.
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