O que os pais devem saber sobre o mercúrio em vacinas

O aumento de casos da doença e a disseminação do vírus ao longo dos anos abriram o debate sobre a segurança das vacinas. Entre os assuntos debatidos que geram polêmica está o uso de mercúrio em vacinas. Hoje, com o fácil acesso à internet e às plataformas de mensagens instantâneas, as pessoas são bombardeadas com informações, muitas vezes imprecisas, gerando desinformação.

As vacinas salvam vidas há anos. Elas desempenham um papel fundamental para a saúde do ser humano. Ela é a proteção que o corpo precisa para combater doenças infecciosas, reduzindo ou até eliminando o risco de adoecimento e manifestações graves. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a vacinação evita de dois a três milhões de mortes.

Um exemplo claro é a vacina da Covid-19, que evitou, em todo o mundo, cerca de 20 milhões de mortes no primeiro ano dos programas de vacinação, sendo 1 milhão no Brasil, segundo análise conduzida por cientistas do Reino Unido.

Neste artigo, vamos explorar a importância da vacina, o que é o mercúrio, como ele é utilizado nas vacinas e quais são as evidências científicas sobre sua segurança, além da quantidade de mercúrio em vacinas.

O que são as vacinas?

Produzidas a partir de microrganismos enfraquecidos ou mortos, ou até mesmo de partes deles, as vacinas estimulam o sistema imunológico a reconhecer e combater vírus e bactérias. Elas contribuem para a formação de defesas contra diversas doenças. Quando uma pessoa recebe uma vacina, o corpo reconhece essas substâncias como algo a ser enfrentado. É a partir desse mecanismo que o organismo começa a produzir anticorpos, que permanecem no corpo e atuam ao encontrar doenças no futuro. Imagine quantas vidas poderiam ter sido poupadas se as vacinas tivessem existido no passado.

Vacinas salvam vidas há anos

Antes as pessoas morriam de sarampo, tétano, febre amarela, tuberculose, varíola, entre outras doenças. Essas enfermidades, na década de 1940, chegaram a matar mais de 50% dos infectados, elevando a taxa de mortalidade infantil no Brasil para 212 a cada mil crianças.

O país só deu uma reviravolta graças à vacinação, que modificou esse cenário por meio do Programa Nacional de Imunizações (PNI), referência internacional criada há 50 anos pelo governo federal. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a imunização previne de 3 a 5 milhões de mortes por ano.

Vacinas em dados

Confira quais foram os primeiros imunizantes a serem desenvolvidos:

  • 1796: varíola;
  • 1880: raiva e cólera;
  • 1921: tuberculose;
  • 1940: DTP (contra difteria, tétano e coqueluche);
  • 1960: vacina tríplice viral protege do sarampo, caxumba e rubéola;
  • 1960: poliomielite.

Um estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS), divulgado em abril deste ano, revela que as vacinas salvaram pelo menos 154 milhões de vidas em todo o mundo desde 1974. Isso equivale a aproximadamente seis vidas por minuto.

É incontestável o impacto positivo que as vacinas tiveram na saúde pública. No entanto, muitas pessoas não sabem do que as vacinas são feitas, e qual é o papel do mercúrio nisso? Vamos responder no decorrer do artigo.

Ligação do mercúrio com metilmercúrio e etilmercúrio

O mercúrio é um elemento químico presente na natureza, encontrado no solo, na água, no ar e na camada mais externa da Terra. Ele pode se apresentar em diferentes formas, das quais as pessoas podem ser expostas a duas principais: metilmercúrio e etilmercúrio.  

A presença do metilmercúrio no meio ambiente é resultado de processos geológicos. Uma vez liberado na natureza, o mercúrio pode ser transformado por determinados tipos de bactérias em metilmercúrio. Esse composto transita pela cadeia alimentar em peixes, animais e humanos, e, em níveis elevados, pode ser tóxico para a saúde das pessoas. 

Em contrapartida, o etilmercúrio é uma forma de mercúrio utilizado no timerosal e é liberado rapidamente do organismo em relação ao metilmercúrio. No corpo, ele se transforma em um mercúrio inorgânico. Por isso, o etilmercúrio, presente na vacina contra a gripe, é rapidamente liberado do organismo.

Embora os nomes sejam parecidos, o etilmercúrio e o metilmercúrio apresentam diferenças significativas em suas propriedades e efeitos. O etilmercúrio tem menos chance de se acumular no corpo e causar danos em comparação ao metilmercúrio.

Timerosal

O mercúrio é um dos componentes do timerosal, um dos conservantes mais utilizados em frascos multidoses. Esse conservante ajuda a impedir o risco de contaminação de germes, como bactérias e fungos, durante a abertura e manipulação da vacina. 

A contaminação pode ocorrer ao preparar a vacina, no momento que a agulha da seringa entra em um frasco. Isso pode causar reações locais severas, doenças graves ou até óbito. Portanto, conservantes, incluindo o timerosal, são adicionados a certos tipos de vacina durante o processo de fabricação para evitar a proliferação de germes.

De acordo com a Sociedade Brasileira de Imunizações, o timerosal é utilizado desde 1930 em concentrações muito baixas, e os estudos mostram que não há risco para a saúde, pois é liberado rapidamente do organismo após aplicação da vacina. No organismo, o timerosal passa por decomposição e se transforma em etilmercúrio, que é rapidamente eliminado.

Quantidade de mercúrio em vacinas

Segundo o Ministério da Saúde, não existem provas ou estudos que comprovem que a quantidade de tiomersal utilizada nas vacinas represente um risco para a saúde.

O timerosal está presente em concentrações de até 0,01% (50 microgramas de timerosal por dose de 0,5 mL ou 25 microgramas de mercúrio por dose de 0,5 mL). Em alguns casos, quando adicionado durante o processo de fabricação, ele pode ser encontrado em quantidades mínimas na vacina final, contendo 1 micrograma de mercúrio ou menos por dose. 

No Brasil, as dosagens de timerosal seguem o padrão internacional da Organização Mundial de Saúde (OMS), variando entre 0,001% e 0,01%. Essas dosagens são consideradas muito baixas e insignificantes quando comparadas com outras fontes de mercúrio.

Efeitos colaterais do timerosal nas vacinas

Para o CDC (Centers for Disease Control and Prevention, ou Centros de Controle e Prevenção de Doenças, em português), é improvável que ocorram reações alérgicas ao timerosal, e a maioria das pessoas não apresenta reações ao conservante. No entanto, algumas podem desenvolver efeitos colaterais, como inchaço no local da injeção e vermelhidão, que duram de 1 a 2 dias.

Quais vacinas contêm mercúrio?

O timerosal pode ser encontrado em algumas vacinas fracionadas. A seguir, estão algumas vacinas que podem contê-lo:

  • Vacina contra a gripe (em frascos multidoses);
  • Vacina contra a meningite (em algumas formulações);
  • Vacina contra a hepatite B (em algumas apresentações;
  • Vacina combinada DTPaHibVIP (difteria, tétano, coqueluche, Hib e poliomielite em algumas apresentações).

Mercúrio e autismo: a relação entre timerosal e autismo

A relação entre o timerosal e o autismo tem sido bastante discutida na sociedade. Apesar das preocupações, vários estudos provaram que o timerosal presente nas vacinas não causa autismo.  

Nos últimos 20 anos, estudos ao redor do mundo revelaram não haver ligação entre o timerosal e o autismo. Foram feitos registros com crianças dos Estados Unidos, Reino Unido, Dinamarca, Suécia, entre outros, como vamos ver a seguir.

  • Em 2003, um estudo de Paul Stehr-Green, no American Journal of Preventive Medicine, revelou que, na Suécia e na Dinamarca, o diagnóstico de autismo aumentou após a remoção do timerosal;
  • Por outro lado, um estudo no Reino Unido, realizado com mais de 14.000 crianças e conduzido por Jon Heron, publicado  na revista Pediatrics, em 2004, não encontrou evidências de um aumento no autismo relacionado à exposição ao timerosal;
  • Outro estudo, publicado na revista Pediatrics por Nick Andrews, estudou os registros de mais de 100.000 crianças que receberam diferentes quantidades de timerosal e não encontrou evidências de que a exposição ao timerosal levasse a distúrbios do desenvolvimento neurológico. Em 2004, o Instituto de Medicina (IOM) revisou mais de 200 estudos sobre o timerosal e o autismo, concluindo que não havia relação que causasse preocupação;
  • Já em 2006, um estudo publicado na revista Pediatrics e realizado por Eric Fombonne analisou 28.000 crianças nascidas no Canadá entre 1987 e 1998, período durante em que as vacinas recomendadas continham quantidades variadas de timerosal. O estudo concluiu que não existe relação entre a quantidade de timerosal a que uma criança foi exposta e o desenvolvimento do autismo;
  • Pesquisadores dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças publicaram um estudo no The New England Journal of Medicine em 2007. O estudo comparou os resultados de 40 testes realizados em 1.000 crianças expostas a vacinas contendo timerosal e, novamente, não encontrou nenhuma ligação entre as quantidades de timerosal com o desenvolvimento do autismo;
  • Schechter e Grether publicaram um estudo sobre as taxas de autismo diagnosticadas na Califórnia entre 1995 e 2007 e descobriram que, apesar da remoção do timerosal das vacinas, as taxas de autismo continuaram a aumentar. O estudo foi publicado em Arquivos de Psiquiatria Geral;
  • Há muita desinformação sobre a relação entre mercúrio e autismo. Estudos como este, ao longo dos anos, comprovam que não há indícios que sustentem essa ligação. Por isso, é importante que os dados sejam apresentados de maneira eficaz,acessível e compreensível à população.

Vacina contra a gripe que contém timerosal é segura para gestantes

De acordo com o CDC, um estudo sobre a vacinação contra a gripe que analisou mais de 2.000 mulheres grávidas não demonstrou efeitos prejudiciais no feto associados à vacina contra a gripe.

Como as mulheres grávidas correm mais risco de complicações por gripe, e há segurança nas orientações sobre mercúrio, os benefícios da vacina contra a gripe (tanto a que tem menos timerosal quanto a que contém timerosal) são maiores do que os riscos teóricos relacionados ao timerosal.

Fake news sobre vacinas

Uma pesquisa online da Associação Médica Brasileira (AMB), em parceria com a Associação Paulista de Medicina (APM), com médicos de todos os cantos do País apontou que 85% dos médicos brasileiros dizem que notícias falsas interferem na adesão à vacinação. 

Confira algumas fake news absurdas difundidas na internet, já desmentidas por especialistas:

  • Vacinas não são seguras;
  • Tomar a vacina e se contaminar com o novo coronavírus;
  • Vacina pode causar outras doenças, como autismo;
  • Vacina da Covid-19 contém chips implantados para controle populacional;
  • Vacina poderia alterar o DNA;
  • Vacinas são produzidas a partir de células de fetos abortados;
  • Imunizantes contra Covid-19 estão relacionados à transmissão de HIV.

Orientações do Ministério da Saúde de como identificar notícias falsas

  • Confira se a fonte é confiável;
  • Verifique a data de publicação;
  • Desconfie de narrativas apelativas e sensacionalistas;
  • Pesquise os fatos e números citados;
  • Pesquise as citações de fontes mencionadas em notícias em sites de busca confiáveis.

Clique aqui e leia o passo a passo para denunciar fake news nas redes sociais, como Facebook, Instagram, Twitter, WhatsApp, TikTok, YouTube, Linkedin e Kwai.

Fontes confiáveis para consulta:

  • Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde: fornecem informações locais atualizadas sobre saúde.

Resultados globais da MS/UNICEF

Um relatório da Organização Mundial da Saúde e do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) mostrou que o Brasil avançou na imunização infantil e deixou a lista dos 20 países com mais crianças não imunizadas no mundo.

Em 2023, o Brasil registrou um crescimento na cobertura vacinal em 13 das 16 principais vacinas do calendário do Programa Nacional de Imunizações (PNI) em comparação a 2022. Em contrapartida, o cenário global é alarmante, com o aumento de crianças que não receberam nenhuma dose da vacina adsorvida difteria, tétano e pertussis (DTP), passando de 13,9 milhões em 2022 para 14,5 milhões em 2023.  

Conclusão

Estudos e pesquisas comprovam a eficácia das vacinas na preservação da saúde da população. Embora as ondas de desinformação sejam fortes nas redes sociais sobre sua efetividade, especialmente quando envolve mercúrio em vacinas, vidas foram salvas e resultados quanto à imunização infantil foram satisfatórios. 

Aprendemos que o uso do timerosal em frascos multidoses ajuda a impedir o risco de contaminação durante a abertura e manipulação da vacina. No entanto, há muito a ser pesquisado e discutido sobre o tema, mas com base científica. 

O debate é sempre válido e precisa ser acessível à população, que é a principal beneficiária. Por isso, nesse artigo, buscamos abordar questões relacionadas às vacinas, como sua importância, dados sobre a utilização do mercúrio, além de orientar sobre como buscar fontes confiáveis e apresentar os meios para denunciar notícias falsas. 

Hoje, é fundamental combater as fake news sobre vacinas. Mais pessoas precisam ser vacinadas. A vacinação, além prevenir contra doenças, contribui para a proteção da saúde pública, imunizando a população e ajudando a reduzir a disseminação de vírus e bactérias.


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