Diagnóstico de microcefalia: o que os pais precisam saber

A microcefalia infantil é uma condição neurológica rara em que o cérebro de uma criança não se desenvolve corretamente, resultando em uma circunferência craniana significativamente menor do que a média para sua idade e sexo. Essa malformação no cérebro eleva a mortalidade em 11,3 vezes. 

Nos últimos anos, especialmente com o surto de Zika vírus em 2015 e 2016, resultando em quase 2 mil casos da malformação, a microcefalia ganhou notoriedade, provocando discussões importantes sobre as causas, prevenção, diagnóstico e tratamento da condição.

De acordo com a biomédica Patrícia Garcez, um estudo conduzido na Flórida, nos Estados Unidos, revelou um dado importante sobre a transmissão do vírus Zika. A pesquisa indicou que, aproximadamente, 1% das gestantes infectadas pelo vírus transmitem a infecção para o feto durante a gestação. “No Brasil, essa taxa variou entre 3%, 13%, até 40%, a depender de como cada estudo foi feito”, compara.

A microcefalia, especialmente em casos graves, pode ter um impacto severo na expectativa de vida da criança, com muitos bebês não sobrevivendo além do primeiro ano. Durante a última epidemia, mais de 80% das mortes ocorreram antes de completar um ano de idade, demonstrando a gravidade da condição. Além disso, a exposição ao vírus que causa a microcefalia, como o Zika vírus, pode levar a complicações ainda na gestação, resultando em abortos espontâneos ou natimortos, tornando a prevenção e o acompanhamento pré-natal essenciais para minimizar os riscos.  

Após o surto de microcefalia em 2015 e 2016, o governo federal instituiu a Semana Nacional de Conscientização sobre Microcefalia, que tem início em todo dia 4 de dezembro.

O que é microcefalia infantil?

A microcefalia é uma condição em que a cabeça do bebê é muito menor do que o esperado, igual ou inferior a 32 cm, devido ao desenvolvimento inadequado do cérebro. 

A microcefalia é uma condição caracterizada por recém-nascidos que apresentam perímetro cefálico inferior a 2 desvios-padrão abaixo da média para sua idade gestacional e sexo, o que indica um desenvolvimento cerebral comprometido. 

Quando a microcefalia é classificada como grave, o perímetro cefálico é inferior a 3 desvios-padrão da média, refletindo uma condição ainda mais séria que pode ter implicações significativas para o desenvolvimento neurológico da criança. É fundamental que esses casos sejam identificados precocemente para garantir intervenções adequadas e suporte ao desenvolvimento dos recém-nascidos afetados.

A microcefalia pode ser classificada em diferentes tipos, conforme a causa e o momento em que ocorre. Na microcefalia primária, há falhas na produção de neurônios durante o desenvolvimento fetal, resultando em um crânio menor ao nascer. 

Já na microcefalia pós-natal, a criança nasce com o crânio e o cérebro de tamanho adequado, mas essas estruturas não acompanham o crescimento normal após o nascimento. 

A microcefalia familiar ocorre quando a criança herda um crânio menor de seus pais, sem apresentar alterações neurológicas significativas. 

Um outro tipo menos utilizado pelos médicos é a microcefalia relativa, na qual crianças com problemas neurológicos têm dificuldade no crescimento do crânio.

Embora cerca de 90% dos casos estejam associados ao retardo mental, as microcefalias de origem familiar podem apresentar desenvolvimento cognitivo normal. O tipo e a gravidade das sequelas variam conforme o caso, mas intervenções precoces contribuem significativamente para melhorar o desenvolvimento e a qualidade de vida.

Causas da microcefalia infantil

A microcefalia tem várias causas, que podem variar desde fatores genéticos até influências ambientais. As principais causas da microcefalia infantil incluem:

Fatores genéticos

A microcefalia pode ser causada por mutações genéticas que afetam o desenvolvimento cerebral.

Infecções

Infecções durante a gestação são uma das causas mais notórias de microcefalia. O vírus Zika, transmitido principalmente por mosquitos, foi amplamente associado a um aumento significativo dos casos de microcefalia em várias regiões do mundo. Mas outros patógenos também podem causar a condição, como sífilis, toxoplasmose, rubéola, citomegalovírus e herpes.

Condições maternas

Desnutrição ou diabetes podem prejudicar o desenvolvimento do cérebro do feto. Além disso, o uso de álcool, radiação, medicamentos e outras substâncias teratogênicas também podem desencadear a microcefalia.

Sintomas da microcefalia infantil

O principal sintoma de uma criança com microcefalia é o tamanho reduzido da cabeça da criança, comparado aos valores de referência estabelecidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS), levando em conta a idade, peso e altura do bebê. 

Além desse sinal característico, a microcefalia pode estar associada a uma série de outras condições médicas, como epilepsia, paralisia cerebral, hiperatividade, nanismo e baixo peso. 

As crianças afetadas também podem apresentar atrasos no desenvolvimento motor e cognitivo, dificuldades de aprendizado e, em alguns casos, problemas de visão e audição, dependendo da gravidade da condição.

Também os sintomas de microcefalia infantil mais comuns são:

  • Problemas visuais e auditivos
  • Convulsões
  • Hiperatividade
  • Distorções no rosto
  • Falta de equilíbrio e coordenação motora
  • Atraso no desenvolvimento do bebê

Diagnóstico de microcefalia infantil

O diagnóstico precoce de condições como a microcefalia é fundamental para a intervenção e acompanhamento adequado do recém-nascido. O primeiro exame físico, realizado nas primeiras 24 horas de vida, é um momento crucial para a identificação de possíveis anomalias congênitas. 

O exame físico realizado logo após o nascimento é um procedimento de rotina nos berçários e tem como objetivo avaliar a saúde geral do bebê. Durante esse exame, os profissionais de saúde buscam por sinais de possíveis distúrbios, como a microcefalia.

Embora a doença possa ser diagnosticada ainda durante a gestação por meio de exames de imagem, como a ultrassonografia, é o acompanhamento regular com o obstetra que determinará a necessidade e o tipo de exame mais indicado para cada caso.

Consequências da microcefalia infantil

A microcefalia pode variar em gravidade, e suas consequências dependem da extensão do comprometimento cerebral. Algumas crianças com microcefalia leve podem ter desenvolvimento relativamente normal, enquanto outras, com casos mais graves, podem enfrentar sérios desafios neurológicos e de saúde ao longo da vida. As principais consequências incluem:

Deficiência intelectual

A microcefalia está frequentemente associada a dificuldades cognitivas, que podem variar de leves a graves. Crianças com microcefalia grave podem apresentar deficiência intelectual profunda, o que afeta o aprendizado, a memória e o comportamento.

Atraso no desenvolvimento

Crianças com microcefalia muitas vezes apresentam atrasos no desenvolvimento, como dificuldade em sentar, engatinhar, andar ou falar. Em casos graves, elas podem não atingir marcos importantes do desenvolvimento.

Problemas motores

A microcefalia pode causar distúrbios motores, como rigidez muscular, dificuldade de coordenação e problemas de equilíbrio. Essas crianças podem ter dificuldades em realizar atividades cotidianas que exigem controle motor.

Epilepsia

Crianças com microcefalia estão em risco aumentado de convulsões, uma vez que o desenvolvimento anormal do cérebro pode provocar atividade elétrica irregular. As convulsões podem variar em frequência e gravidade, e muitas vezes exigem tratamento medicamentoso contínuo.

Problemas de visão e audição

Algumas crianças com microcefalia apresentam comprometimentos visuais e auditivos. Problemas de visão, como o estrabismo, podem ocorrer devido a danos cerebrais, e a perda auditiva pode ser resultado de infecções congênitas ou lesões durante o desenvolvimento.

Cuidados e tratamento da microcefalia infantil

Embora não exista um tratamento específico para a microcefalia, diversas ações de suporte podem auxiliar no desenvolvimento dos bebês e crianças afetadas. A estimulação precoce é essencial para maximizar o potencial de cada criança, focando em seu crescimento físico, além da maturação neurológica, cognitiva, social, comportamental e afetiva, que podem ser impactados pela condição. 

Crianças com microcefalia recebem estimulação precoce em Centros Especializados de Reabilitação (CER), Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF) e Ambulatórios de Seguimento de Recém-Nascidos espalhados pelo país. 

O tratamento é individualizado, focado nas necessidades específicas de cada criança, e pode incluir:

Terapia ocupacional

A terapia ocupacional visa ajudar as crianças a desenvolver habilidades motoras, além de melhorar sua capacidade de realizar atividades diárias. A intervenção precoce com terapia ocupacional pode ajudar a maximizar o potencial de desenvolvimento motor e funcional da criança.

Fisioterapia

A fisioterapia é uma parte fundamental do tratamento para microcefalia, especialmente para crianças com dificuldades motoras. Os fisioterapeutas trabalham para melhorar o funcionamento muscular, a coordenação e a mobilidade das crianças, ajudando-as a alcançar o máximo de independência possível.

Fonoaudiologia

Crianças com microcefalia muitas vezes apresentam atrasos no desenvolvimento da fala e da linguagem. A terapia da fala pode ajudar a melhorar as habilidades de comunicação, promover a interação social e facilitar a alimentação em casos de dificuldade de deglutição.

Neuropediatra

Além do controle das crises convulsivas, o neuropediatra também acompanha o desenvolvimento neuropsicomotor da criança com microcefalia, avaliando habilidades como a linguagem, a coordenação motora e a cognição. Essa avaliação regular permite identificar precocemente possíveis atrasos no desenvolvimento e oferecer as intervenções terapêuticas adequadas.

Além disso, o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece uma ampla gama de serviços para atender às necessidades da população, incluindo cuidados de atenção básica, serviços especializados de reabilitação, exames e diagnósticos, além de atendimento hospitalar. Para casos em que se aplica, o SUS também disponibiliza órteses e próteses, contribuindo para a reabilitação e melhoria da qualidade de vida dos pacientes. Esses recursos são essenciais para garantir o acompanhamento integral dos indivíduos, especialmente daqueles com condições crônicas ou que necessitam de tratamentos específicos.

Diante do aumento de casos, o Ministério da Saúde, em colaboração com as secretarias municipais e estaduais de saúde, desenvolveu um protocolo de atendimento específico para crianças afetadas. Esse protocolo serve como uma base de orientação para os gestores locais, auxiliando na identificação e estabelecimento dos serviços de saúde de referência para o tratamento desses pacientes. O protocolo também define o fluxo de atendimento necessário, garantindo que as crianças recebam os cuidados adequados de forma organizada e eficiente, desde o diagnóstico até o acompanhamento especializado.

Prevenção da microcefalia infantil

Diante da ausência de uma vacina específica para prevenir a Zika, o Ministério da Saúde tem direcionado seus esforços para outras estratégias de combate. A principal linha de ação concentra-se no controle do vetor transmissor, promovendo campanhas educativas para conscientizar a população sobre a importância da prevenção. Essas iniciativas visam interromper o ciclo de transmissão da doença e reduzir o número de casos, especialmente em regiões de maior risco.

As principais estratégias de prevenção incluem:

Cuidados pré-natais

O acompanhamento pré-natal regular é essencial para identificar e tratar precocemente possíveis complicações na gestação. Testes de infecção, exames de ultrassonografia e orientações nutricionais podem ajudar a proteger a saúde do bebê e reduzir o risco de microcefalia.

Prevenção contra Zika

Durante surtos de Zika vírus, medidas de proteção contra picadas de mosquitos são fundamentais. O uso de repelentes à base de icaridina, DEET ou IR3535, telas de proteção em portas e janelas e roupas de mangas compridas pode reduzir o risco de infecção, especialmente em áreas endêmicas. Além disso, é importante não deixar água parada em vasos, pneus velhos, calhas, e outros lugares da casa para evitar a proliferação do mosquito transmissor. Mulheres grávidas devem seguir orientações rigorosas de prevenção contra o Zika.

Conclusão

A microcefalia infantil, com suas diversas causas e manifestações, é uma condição que exige atenção multidisciplinar e suporte contínuo. Embora não exista uma cura definitiva, o diagnóstico precoce e a implementação de estratégias de reabilitação desempenham um papel vital na melhoria da qualidade de vida das crianças afetadas. Programas de estimulação precoce são essenciais para maximizar o desenvolvimento físico, cognitivo e social, possibilitando que essas crianças alcancem seu maior potencial.

A prevenção também é um pilar importante no enfrentamento da microcefalia. Medidas como vacinação, cuidados pré-natais rigorosos e a proteção contra infecções, especialmente o vírus Zika, que foi relacionado a um aumento significativo de casos, são essenciais para reduzir a incidência dessa condição. A conscientização e o acesso a esses cuidados podem fazer uma grande diferença na saúde pública.

Além disso, o suporte às famílias de crianças com microcefalia é fundamental. O acompanhamento por equipes médicas e profissionais de reabilitação oferece às famílias orientação e ferramentas para lidar com os desafios do dia a dia. Ambientes de apoio, como os Centros Especializados de Reabilitação (CER) e Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF), proporcionam os cuidados necessários para o desenvolvimento dessas crianças.

Em resumo, embora a microcefalia não tenha cura, é possível minimizar seus impactos por meio de ações preventivas e terapêuticas. Com o avanço das pesquisas e o comprometimento das políticas públicas em oferecer suporte a essas crianças e suas famílias, é possível vislumbrar um futuro com mais inclusão e oportunidades para aqueles que vivem com a condição.


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