Prevenção de quedas e acidentes: como manter crianças seguras em casa

A prevenção de quedas e acidentes é, com certeza, a melhor opção quando há crianças em casa. Medidas simples, como limitar o acesso à cozinha, instalar barreiras na escada ou usar tapetes antiderrapantes, podem evitar quedas e lesões. Embora as crianças precisam de liberdade para explorar o ambiente em que vivem e se desenvolver, isso precisa ser feito de forma segura e saudável. 

Cuidar dos pequenos não é uma tarefa simples, afinal, quem assume essa responsabilidade enfrenta uma dupla jornada que exige muito do tempo, do físico e do mental. Além disso, ter crianças em casa requer cuidado redobrado, triplicado; pois, em um instante, elas podem estar sentadas em frente à TV assistindo Peppa, e, no outro, mexendo em algum objeto perigoso ou pulando do sofá. 

Com o intuito de informar mães e responsáveis sobre esse importante tema, criamos este guia para tratar questões fundamentais que envolvem a segurança da criança em ambiente doméstico e a prevenção de quedas com crianças.  

O objetivo desse artigo é trazer essa discussão à tona, permitindo que todos possam conversar, compartilhar e refletir sobre suas experiências, uma vez que a internação de crianças por queda foi alta no ano passado.

Estatística de acidentes domésticos com crianças

Não é uma realidade fácil de reconhecer e aceitar, mas os acidentes no Brasil são a principal causa de morte de crianças de 1 a 14 anos de idade. O mais preocupante é que 90% desses acidentes podem ser evitados com medidas simples de prevenção. 

Esse dado, divulgado pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) em 2022, mostra a importância de abordar o tema e conscientizar pais e responsáveis sobre a necessidade de adaptar o ambiente e determinar regras para a proteção das crianças. Medidas como a compra de brinquedos seguros e a instalação de redes de proteção em escadas e janelas, por exemplo, são fundamentais para prevenir acidentes domésticos e garantir a segurança dos pequenos.

No ano passado, mais de 33 mil crianças menores de 10 anos foram parar em hospitais devido a quedas. Segundo a SBP, o cenário é preocupante, especialmente ao considerar que o problema é recorrente. De 2014 a 2023, as internações por queda superaram a marca de 332 mil casos. 

Nesse período de quase 10 anos, foram registrados 195.706 casos com crianças de cinco a nove anos, 110.503 internações de crianças de um a quatro anos e 26.154 internações de crianças com menos de um ano. Esse cenário só comprova ainda mais a importância da prevenção de acidentes domésticos, por meio da adoção de medidas protetivas para evitar acidentes e proteger a integridade física da criança.

Quais são os tipos de acidentes domésticos mais comuns de acordo com as idades?

Embora as quedas sejam o maior motivo de visitas dos pequenos aos hospitais, é preciso considerar outros acidentes que também podem ser evitados com os cuidados necessários. Diversos aspectos contribuem para a recorrência de acidentes em casa, como a presença de móveis ou objetos pontiagudos, piso escorregadio, falta de iluminação, entre outros. 

Segundo a SBP, os acidentes mais frequentes variam de acordo com o grupo etário.

Para crianças de 0 a 1 ano, os principais acidentes incluem quedas de trocador, cama ou colo, além de asfixia, sufocação, aspiração de corpos estranhos, intoxicações e queimaduras provocadas por água quente ou cigarro. Já entre as crianças de 2 a 4 anos, os acidentes mais comuns são quedas, asfixia, sufocação, afogamentos, intoxicações, choques elétricos e traumas. 

Entre as crianças de 5 a 9 anos, destacam-se acidentes por quedas, atropelamentos, queimaduras, afogamentos, choques elétricos, intoxicações e traumas. 

Por fim, os jovens de 10 a 19 anos enfrentam riscos semelhantes, com quedas, atropelamentos, afogamentos, choques elétricos, intoxicações e traumas.

Agora, nessa lista, vamos exemplificar algumas situações de acidentes domésticos com crianças:

  • Afogamentos: a banheira ou balde cheio, sem ninguém para supervisionar, podem representar riscos sérios, assim como piscinas sem proteção;
  • Choque elétricos: são as tomadas elétricas desprotegidas, onde os menores costumam pôr a mão ou inserir objetos metálicos. Fios elétricos danificados ou expostos de eletrodomésticos podem provocar choques;
  • Quedas: o terror dos pais. Por isso, é importante discutir sobre a prevenção de quedas com crianças. É a janela e varandas que não são protegidas, o banheiro e o piso molhado, a escada sem corrimão ou proteção adequada, a cama ou berço sem proteção (grade), a área externa com pisos irregulares, ou os móveis que não têm protetores de quina ou estão no lugar inadequado, como próximo de janelas;
  • Queimadura: pode ser causada por vários motivos. É uma panela quente no fogão ao alcance do menor, uma churrasqueira ligada, um ferro de passar em lugar acessível, uma cafeteira quente com café, produtos de limpeza ou químicos como a água sanitária em lugares acessíveis, entre outros;
  • Sufocação: alimentos que não forem cortados em pedaços menores. É o caso daquela uva grande ou maçã com casca em pedaços graúdos, dos brinquedos pequenos que podem levar a boca, dos cordões utilizados na criança ou no bebê, entre outros;
  • Trauma por impacto ou lesão por colisão: é o peso do brinquedo pesado que o pequeno não consegue suportar, eletrodomésticos mal posicionados que podem ser facilmente puxados, ou uma batida em móveis que não deveria estar em determinado lugar;
  • Outros: contato entre animais e crianças requer cuidados especiais para garantir a segurança de ambos em relação à higiene, uma vez que algumas crianças podem ser alérgicas. Além disso é ensiná-la a interagir respeitosamente com os pets.

Ranking de locais de maior riscos da casa

Quanto menor a idade, maior deve ser o monitoramento da criançada para a prevenção de acidentes domésticos. A SBP listou, em ordem decrescente, os ambientes com maior risco dentro de casa: cozinha, banheiro, corredor, escada, quarto e sala, os locais de maior risco dentro de casa. Confira:

  • Cozinha: considerada o lugar mais perigoso da casa, a cozinha é onde podem ocorrer queimaduras, ferimentos cortantes, fissuras, lacerações e intoxicações;
  • Banheiro: em 2º lugar do ranking, esse ambiente apresenta risco de afogamento, escorregões e quedas devido ao piso molhado, além do armazenamento de produtos de limpeza e medicamentos. Também há riscos de queimaduras por conta da água quente de chuveiros e choques elétricos pela proximidade com aparelhos elétrico em um ambiente úmido;
  • Quartos (das crianças e do casal): ocorrem quedas de camas e berços. No ambiente do casal ainda pode conter medicamentos, cosméticos, objetos cortantes ou pequenos e de alto risco;
  • Sala de estar: contém aparelhos eletrônicos, como TVs e sistemas de som, que, se não estiverem firmemente fixados, podem cair e causar lesões. Além do mais, sofás e mesas podem ser motivo de quedas, enquanto móveis com quinas afiadas podem causar ferimentos. É importante também manter bebidas alcoólicas, objetos pequenos e plantas tóxicas fora do alcance;
  • Área externa (lavanderia, jardim, garagem e varanda):  podem conter produtos de limpeza que são tóxicos quando ingeridos ou inalados, ferramentas de jardinagem afiada, veículos como carros e motos. Também é  importante manter bebidas alcoólicas, objetos pequenos e plantas tóxicas fora do alcance.
  • Corredores e escadas: podem não ter iluminação clara e constante, além de pisos desnivelados, aumentando o risco de quedas.

Principais medidas para a prevenção de quedas e acidentes

Principais medidas para a prevenção de quedas e acidentes
Na maioria dos casos, os acidentes são evitáveis. Apesar dele ser frequente nos primeiros anos de vida, é possível preveni-los. A SBP disponibilizou um Manual de Orientação (2019-2021) com recomendações importantes de como evitar quedas de crianças, além de outros acidentes. Confira:

Cuidado na cozinha

  • Proteja as tomadas elétricas e mantenha os fios presos;
  • Armazene o bujão de gás do lado de fora;
  • Mantenha objetivos cortantes, itens de vidros, isqueiros, fósforos e material de limpeza fora do alcance das crianças, de preferência em gavetas e armários com travas;
  • Use as bocas de trás do fogão e verifique se os cabos das panelas estão virados para dentro, em direção ao centro do fogão.

Banheiro

  • Mantenha armários com cosméticos, remédios e aparelhos elétricos sempre fechados;
  • Opte por tapetes antiderrapantes;
  • Evite deixar o piso molhado;
  • Realize manutenções periódicas no aquecedor a gás e mantenha o banheiro bem ventilado;
  • Proteja as tomadas elétricas;
  • Desconecte os aparelhos elétricos das tomadas após o uso;
  • Mantenha as tampas dos vasos sanitários fechadas.

Quarto das crianças

  • Prefira camas e beliches com largura de 80 cm a 1 metro, equipadas com proteções laterais. Os espaços entre as grades devem ser de 5 a 7 cm para evitar que as crianças prendam a cabeça;
  • Evite posicionar camas e móveis próximos a janelas;
  • Instale proteção de janelas;
  • Escolha móveis com cantos arredondados; se forem pontiagudos, utilize protetores de quina;
  • Brinquedos devem ser guardados organizados;
  • Prenda cobertores e lençois no pé da cama para evitar asfixia;
  • Coloque protetores em tomadas;
  • Evite TV e abajures em quartos de crianças pequenas.

Quarto do casal

  • Use tomadas com protetores;
  • Mantenha os fios curtos e fora do alcance de crianças;
  • Coloque TVs e outros aparelhos em móveis firmes e estáveis;
  • Evite usar a mesma tomada para dois ou mais aparelhos elétricos;
  • Guarde medicamentos, perfumes e cosméticos fora do alcance das crianças, optando por armários altos e trancados;
  • Não utilize bolinhas de naftalina devido ao risco de intoxicação.

Sala de estar

  • Mantenha aparelhos eletrônicos fora do alcance das crianças, com fios curtos e presos;
  • Guarde bebidas alcoólicas, fósforos e isqueiros em armários altos e trancados.
  • Coloque protetor de quina em móveis pontiagudos;
  • Instale candelas nas escadas;
  • Mantenha o telefone em um local de fácil acesso;
  • Evite ou sinalize plantas ornamentais e portas de vidro para evitar intoxicações ou traumas;
  • Opte por cortinas sem puxadores.

Área externa (lavanderia, jardim, garagem e varandas)

  • Instale proteção de janelas e evite móveis próximos a essa área;
  • Churrasqueiras devem estar firmemente fixadas e seguras, de serem mantidas longe das crianças;
  • Instale muros, cercas ou grades de proteção na piscina, com um portão trancado, lona de cobertura e alarme, para prevenir afogamentos;
  • Mantenha substâncias químicas em armários altos e trancados;
  • Evite cultivar plantas tóxicas;
  • Mantenha baldes e bacias em locais altos e vazios;
  • O tanque de lavar roupa deve ter fixação adequada.

Corredores e escadas

  • Mantenha iluminação clara e constante;
  • Instale pisos adequados e antiderrapantes, sem tapetes ou objetos que atrapalhem a circulação.

Guia de Primeiros Socorros

O ideal seria que a prevenção fosse suficiente para evitar quedas e acidentes dentro de casa. No entanto, como isso nem sempre é possível, separamos algumas dicas para pais e responsáveis sobre como proceder em caso de acidentes.

As informações a seguir são extraídas da cartilha Prevenção aos Acidentes Domésticos & Guia Rápido de Primeiros Socorros, produzida pelo então Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH), em parceria com a Secretaria Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (SNDCA), e elaborada pelo Corpo de Bombeiros Militar do Espírito Santo.

Queimaduras

No caso de queimaduras térmicas, resfrie a área queimada o mais rápido possível, cubra as regiões afetadas com um curativo e transporte a pessoa para o hospital, se necessário

É importante levar a criança ao hospital quando a queimadura ocorrer no rosto, nas mãos ou nos órgãos genitais; em uma área extensa (maior que o diâmetro de uma bolinha de pingue-pongue); ou se for resultado de um choque elétrico.

Na cartilha, é recomendado que não se passe nenhum tipo de produto no local da queimadura, não se estoure as bolhas e não se retire aneis, pulseiras, relógios ou similares.Se a criança estiver em chamas, deite-a no chão, role-a e abafe, se possível, com um cobertor.

Intoxicação

Nesses casos, é recomendado é identificar o agente causador da intoxicação, como plantas tóxicas, alimentos contaminados, produtos de limpeza, remédios, inseticida, entre outros, e solicitar atendimento especializado. Verifique qual é o centro de atendimento toxicológico de sua cidade.

Escoriações

Antes de tocar em qualquer lesão, higienize as mãos com água e sabão ou utilize álcool em gel. O recomendado é lavar com água e sabão neutro ou soro fisiológico, até eliminar as sujeiras, os pequenos cortes, perfurações superficiais e escoriações.

Quando envolve lesões profundas e cortes mais extensos, é necessário levar a criança ao hospital para um atendimento mais apropriado.

Fraturas

As fraturas podem ser abertas ou expostas, quando é possível ver o osso, e fechadas ou simples. Nos dois casos, é necessário acionar o socorro especializado: Corpo de Bombeiros Militar (Ligue para 193) ou Samu (Ligue 192).

Se possível, imobilize provisoriamente a região afetada na posição em que se encontrada, evitando a movimentação dos fragmentos ósseos. Em caso de fraturas expostas e se houver hemorragia, tente controlá-la com um pano limpo. O pano deve ser colocado sobre o local e pressionado. Leve a criança para um pronto socorro ou aguarde uma equipe especializada.

Não é recomendado tentar colocar o osso no lugar, pois isso pode agravar a situação da criança. As fraturas na região das costas e pescoço necessitam de mais atenção, e qualquer movimentação deve ser feita apenas por profissionais especializados.

Hemorragia

Quando envolve hemorragias severas, é essencial acionar uma equipe especializada. Nos demais casos, recomenda-se comprimir diretamente o local com uma compressa de gaze ou um pano limpo, podendo fazer um curativo compressivo com compressas ou faixas elásticas;

Se preferir, transporte a criança para um pronto socorro ou aguarde uma equipe especializada.

É importante manter a criança acordada e calma. Não se deve oferecer comida ou bebida, e é essencial mantê-la aquecida. No caso de hemorragias nasais, mantenha a cabeça da criança reta, comprima a narina que está sangrando com os dedos e evite que ela assoe o nariz. Se o sangramento persistir, acione o atendimento especializado.

Desmaios

Nesses casos, é fundamental manter a tranquilidade e afastar curiosos. Quando a criança começar a desmaiar, segure-a antes que caia e ajude-a a sentar-se em uma cadeira. Em seguida, peça que respire profundamente até que o mal-estar passe. Além disso, afrouxe as roupas da criança.

Outra recomendação é que, com a criança deitada no chão, coloque-a em posição lateral para que não se engasgue. Se ela não recuperar a consciência em alguns minutos, acione o serviço de emergência

Não ofereça algo para cheirar, beber ou comer enquanto a criança estiver desacordada. Não a sacuda e nem dê tapas no rosto para acordá-la. Por fim, não jogue água no pequeno.

Convulsões

Assim como nos desmaios, mantenha a tranquilidade e afaste curiosos. É importante afastar objetos ao redor que possam ferir a criança. É recomendado que se posicione lateralmente a cabeça da criança para evitar que aspire secreções e afrouxe suas vestes. Proteja a cabeça e retire os óculos, se estiver usando. Por fim, acione o serviço de emergência, como Samu e Corpo de Bombeiros Militar.

Dentre as considerações, está a de não realizar manobras inadequadas durante a crise, como forçar a abertura da boca, tentar introduzir objetos na boca ou imobilizar os membros. No entanto, é necessário administrar os medicamentos conforme indicado. No caso de convulsão febril, além de adotar os cuidados gerais, deve-se baixar a temperatura com a aplicação de compressas frias no pescoço, axilas e virilha, além de encaminhar a criança para o hospital.

Ataque por animais peçonhentos

Acione o serviço de emergência, como Corpo de Bombeiros Militar ou Samu. Além disso, acalme a criança e evite que ela se movimente. Se a picada ocorrer nos membros, eleve-os. Também lave o ferimento com água e sabão.

Não é recomendado realizar torniquete, sugar o ferimento com a boca, cortar o local afetado ou usar substâncias como urina, terra e pó de café. Segundo a cartilha, se possível e se não houver perigo, leve o animal envolvido no acidente em transporte adequado que possa ser identificado, facilitando o diagnóstico e tratamento.

Choque elétrico

Interrompa a corrente elétrica antes de socorrer a vítima. Caso não seja possível, acione a Central Elétrica ou o Corpo de Bombeiros Militar. Jamais toque em fios elétricos com as mãos ou na vítima logo após o choque; aguarde alguns segundos. Caso seja necessário interromper o contato da vítima com a fonte elétrica, use um cabo de vassoura ou outro material isolante. Verifique se o calçado usado tem solado de borracha.

Após verificar todas as medidas de segurança, observar se a criança respira. Caso não respire, inicie a reanimação cardiopulmonar (apenas compressões torácicas) e ligue para o corpo de bombeiros militar ou Samu.

Conclusão

Acidentes são frequentes ao longo da vida, especialmente nos anos iniciais, quando as crianças estão se desenvolvendo. Uma das principais preocupações dos pais e responsáveis é como evitar quedas de crianças, além de outros acidentes.

Além disso, as crianças são naturalmente curiosas e exploradoras, o que as torna mais suscetíveis a acidentes. Nesses casos, o velho ditado “prevenir é melhor do que remediar” nunca fez tanto sentido.

Conversar sobre a prevenção de quedas e acidentes é essencial para garantir a segurança da criança e de todos os membros do lar. Auxiliar pais e responsáveis pode ajudar a evitar lesões graves, como fraturas, concussões ou contusões. Pensando nisso, listamos nesse guia os principais cuidados a serem tomados, baseados nas orientações da SBP.

Ao longo do texto, aspectos importantes sobre o tema foram trazidos à tona, permitindo que você se atualize sobre situações que podem ser evitadas com medidas adequadas. Para evitar dados como os de 2023, debater sobre a prevenção de acidentes domésticos é o caminho mais viável para evitar que muitos pequenos precisem ir aos hospitais.


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