Sono do bebê: melhores práticas para um ambiente de sono seguro

O sono do bebê é um dos temas mais debatidos e estudados na primeira infância, pois desempenha um papel crucial no desenvolvimento físico, cognitivo e emocional da criança. Para muitos pais, compreender as particularidades do sono infantil e como promover uma rotina saudável de descanso é essencial para o bem-estar de toda a família. De acordo com um estudo do Departamento Científico de Medicina do Sono da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), entre 20% e 30% das crianças nos primeiros anos de vida podem sofrer de despertares noturnos frequentes e dificuldades para dormir.

A pneumologista pediátrica Dra. Beatriz Barbisan, da Universidade Federal de São Paulo, alerta que noites mal dormidas ou sono de baixa qualidade podem causar prejuízos neurocomportamentais, afetar o desempenho escolar, além de gerar alterações de humor e até tensões familiares. Ela destaca a importância de estabelecer uma rotina de sono adequada desde cedo, pois distúrbios do sono são comuns em todas as faixas etárias.

“Os pais frequentemente adiam a priorização do sono dos filhos, presumindo que seja apenas uma fase passageira. No entanto, é fundamental reconhecer que o tempo de sono perdido não pode ser recuperado, e as consequências da privação de sono podem ser duradouras”, explica a especialista em sono, Danielle Cogo.

Diante disso, compreender o sono do bebê e buscar orientações para garantir um descanso reparador é vital para o desenvolvimento saudável da criança e a harmonia familiar.

Fases do sono do bebê

Assim como os adultos, os bebês passam por ciclos de sono que alternam entre as fases REM (Rapid Eye Movement) e não REM. O sono REM é a fase em que ocorrem os sonhos e há maior atividade cerebral, enquanto o sono não REM se divide em fases de sono leve e profundo. Desde o período fetal até a fase de lactente, o processo de transição entre vigília e sono já está bem ajustado, funcionando como um “interruptor” que alterna rapidamente entre os diferentes estados de consciência: vigília, sono REM e sono não REM.

Essas transições entre as fases do sono do bebê são controladas por áreas específicas do cérebro, que regulam os estados de consciência, com regiões dedicadas tanto à promoção do sono quanto à vigília. Durante a vigília, os movimentos dos membros do bebê são uma prévia da atividade que ele terá na vida adulta. Já o sono é um momento crucial de descanso, permitindo a restauração da energia necessária para o desenvolvimento saudável.

Os principais desafios com o sono do bebê

O sono do bebê, muitas vezes idealizado como profundo e contínuo, pode se revelar um grande desafio para muitas famílias. Diversos fatores, desde as características individuais da criança até o ambiente em que ela vive, influenciam a qualidade e a quantidade de sono. Vamos explorar alguns desses fatores:

Temperamento das crianças

Cada bebê possui um temperamento único, que influencia diretamente seus padrões de sono. Bebês mais agitados ou sensíveis podem ter mais dificuldade para adormecer e manter o sono durante a noite.

Humor dos pais

O estado emocional dos pais desempenha um papel crucial no ambiente familiar. Pais ansiosos ou estressados podem transmitir essa energia para o bebê, dificultando o relaxamento e, consequentemente, o sono.

Interação entre pais e filhos

A forma como os pais interagem com seus bebês durante o dia e à noite tem impacto direto nos hábitos de sono. Estabelecer rotinas consistentes, momentos de calma e contato físico pode ajudar a promover um sono tranquilo.

Exposição a telas

O uso excessivo de telas (celulares, tablets, televisão) antes de dormir pode estimular o cérebro do bebê, dificultando o adormecimento e prejudicando a qualidade do sono.

Hábitos culturais

As práticas culturais e étnicas também influenciam os hábitos de sono dos bebês. Diferentes culturas possuem abordagens variadas em relação ao sono infantil, o que reflete em expectativas e práticas de cuidado distintas.

Clima

O clima pode influenciar o sono. Em regiões mais quentes, por exemplo, o bebê pode ter dificuldade em regular a temperatura corporal, o que pode interferir na qualidade do sono.

Ambiente familiar

O ambiente familiar, incluindo a rotina, os estímulos e a organização do espaço, desempenha um papel fundamental na qualidade do sono do bebê. Um ambiente calmo e bem organizado favorece o descanso.

Troca de dia pela noite

É comum que recém-nascidos tenham o ciclo de sono invertido, dormindo mais durante o dia e se alimentando com maior frequência à noite. Isso ocorre devido ao desenvolvimento imaturo do sistema circadiano do bebê. No entanto, com o passar das semanas e a adoção de rotinas consistentes, como horários regulares para mamadas e um ambiente propício para o sono, o padrão tende a se ajustar gradualmente, permitindo um ritmo mais próximo ao dos adultos.

Ansiedade de separação

Por volta dos 9 meses, muitos bebês começam a experimentar a ansiedade de separação, um fenômeno natural do desenvolvimento infantil. Nessa fase, eles tendem a buscar mais a atenção dos pais, o que pode resultar em despertares noturnos e choro. Esse comportamento é normal, pois os bebês se tornam mais conscientes da independência e das separações temporárias, levando-os a procurar conforto e proximidade, especialmente durante a noite.

É importante ressaltar que o sono do bebê é um processo complexo e individual. O que funciona para uma criança pode não funcionar para outra. A busca por informações e o acompanhamento de um pediatra são essenciais para identificar as causas das dificuldades no sono e encontrar as melhores estratégias para cada caso.

Dicas para melhorar o sono do bebê

Garantir que o bebê tenha uma boa noite de sono não é uma tarefa fácil, mas algumas práticas podem ajudar os pais a criar uma rotina saudável e eficiente.

Estabeleça uma rotina de sono do bebê

Estabelecer uma rotina do sono do bebê que seja consistente, para que o pequeno compreenda que a hora do descanso está se aproximando. Atividades repetitivas, como um banho relaxante, ler uma história ou cantar canções de ninar, ajudam a criar um ambiente calmo e propício ao sono. 

É igualmente importante evitar estímulos intensos, como brinquedos barulhentos ou o uso de telas, nas horas que antecedem o momento de dormir. 

De acordo com a especialista Danielle Cogo, manter horários fixos para o sono e a alimentação é fundamental. Além disso, não negligenciar as sonecas durante o dia evita que o bebê fique irritado, garantindo uma noite mais tranquila.

Ofereça um ambiente seguro e confortável

Um ambiente tranquilo é essencial para garantir um sono restaurador. Escolher um local calmo, escuro e confortável facilita o adormecimento do bebê. Durante o dia, é importante manter o ambiente iluminado e com os sons normais da casa, ajudando o bebê a distinguir o dia da noite.

À noite, prefira luzes suaves, como as de um abajur, e manuseie o bebê de forma tranquila para não estimulá-lo demais. Além disso, mantenha o ambiente fresco e evite agasalhar excessivamente o bebê, prevenindo o superaquecimento, que pode interferir na qualidade do sono.

“Por exemplo, cerca de duas horas antes do horário de dormir, é importante reduzir os estímulos na casa, diminuir a intensidade das luzes e evitar atividades agitadas. Recomenda-se evitar o uso de telas eletrônicas, criando um ambiente calmo e relaxante para que o bebê possa adormecer com mais facilidade”, afirma Danielle Cogo.

Incentive o bebê a dormir sozinho

A partir dos 6 meses, recomenda-se incentivar o bebê a adormecer sozinho no berço, sem a presença constante dos pais. Colocar o bebê no berço enquanto ele ainda está sonolento, mas acordado, ensina-o a se acalmar e adormecer por conta própria. Isso não só desenvolve a autonomia do bebê na hora de dormir, como também contribui para a criação de hábitos de sono mais saudáveis, facilitando o descanso tanto para o bebê quanto para berço seguros pais.

Cuidado com a superestimulação

Bebês que passam muito tempo acordados ou são expostos a muitos estímulos antes de dormir podem ter dificuldade para adormecer. Por isso, os pais devem ficar atentos aos primeiros sinais de cansaço, como esfregar os olhos, bocejar ou irritar-se, e começar a preparar o bebê para dormir assim que esses sinais aparecerem. Uma boa estratégia é reduzir a exposição à luz artificial, especialmente de telas, ao anoitecer, além de incluir atividades relaxantes, como leituras ou canções suaves, para criar um ambiente calmo e propício ao sono.

Crie um berço seguro

Garantir um berço seguro é essencial para o sono tranquilo e saudável do bebê. O berço deve estar livre de travesseiros, cobertores soltos, bichos de pelúcia e protetores de berço volumosos, pois esses itens podem aumentar o risco de sufocamento e síndrome da morte súbita infantil (SMSI). Um berço seguro para o bebê tem o colchão deve ser firme e ajustado corretamente, sem espaços vazios. Também é importante colocar o bebê para dormir de barriga para cima, posição recomendada para promover uma respiração adequada.

Aleitamento materno

O leite materno pode contribuir para noites mais tranquilas, pois contém componentes como alfa-lactoalbumina, triptofano e melatonina, que ajudam a regular o ciclo de sono do bebê, promovendo um descanso mais saudável. Após cada mamada, é importante ajudar o bebê a arrotar, evitando desconfortos e facilitando a digestão, o que garante o bem-estar contínuo do bebê.

“Esses elementos combinados proporcionam um sono mais tranquilo e reparador, oferecendo ao bebê todo o suporte necessário para um desenvolvimento ideal”, explica a especialista Danielle Cogo.

A falta de sono

A falta de descanso adequado pode trazer diversas consequências negativas para as crianças, afetando tanto seu desenvolvimento físico quanto emocional. Entre os sinais mais comuns estão irritabilidade, choro fácil, mau humor e dificuldade em manter a atenção. Além disso, a privação de sono pode impactar o crescimento, gerando insegurança, timidez e prejudicando o desempenho escolar. O descanso é essencial para que a criança se desenvolva plenamente e lide de forma saudável com os desafios diários.

Nos pais, a falta de descanso também tem um impacto significativo, provocando insegurança, irritabilidade e uma constante sensação de culpa e impotência. Sem o descanso adequado, o cansaço se acumula, diminuindo a paciência e afetando o desempenho no trabalho e nos cuidados com a criança. Por isso, é importante que as mães aproveitem o momento de sono do bebê para descansar também, evitando sobrecarregar-se com tarefas domésticas e permitindo-se recuperar a energia necessária para enfrentar a rotina.

Cama compartilhada

O compartilhamento de cama entre pais e bebês é um tema polêmico, gerando divergências de opinião entre pais, médicos e especialistas em desenvolvimento infantil. Para alguns pais, essa prática é uma solução culturalmente ou socialmente aceitável para lidar com as dificuldades de sono dos filhos, como a amamentação noturna. No entanto, diversos estudos associam o ato de dormir junto a mais interrupções do sono e a queixas em relação à qualidade do descanso, embora a relação entre o co-sleeping e os problemas de sono possa variar conforme fatores socioculturais.

Independentemente das opiniões, é crucial dar ênfase à questão da segurança. A pediatra Rebecca Carlin ressalta que dormir na mesma cama aumenta significativamente o risco de ferimentos ou até de morte do bebê, como asfixia ou sufocamento. A Academia Americana de Pediatria (AAP) recomenda que os bebês durmam em seus próprios berços, próximos aos pais, mas em um ambiente seguro, para reduzir o risco de acidentes fatais. No Brasil, em 2024, a Secretaria de Saúde registrou nove mortes de bebês relacionadas ao co-sleeping, reforçando a importância de seguir as diretrizes de segurança. Apesar de alguns pais considerarem o compartilhamento de cama uma conveniência, a prática deve ser evitada devido aos riscos de sufocamento, quedas e asfixia, que podem ter consequências trágicas.

Berço seguro

Para reduzir as chances de Síndrome de Morte Súbita do Lactente (SMSL), é essencial ter um berço seguro para o bebê. A recomendação principal é sempre colocá-lo para dormir de barriga para cima, em um colchão firme, sem cobertores soltos, travesseiros ou bichos de pelúcia no berço. A Academia Americana de Pediatria (AAP) enfatiza que, embora um berço seguro possa parecer simples e pouco decorado, o mais importante é priorizar a segurança. Protetores de berço, almofadas e enfeites visuais devem ser evitados, pois aumentam o risco de sufocamento e acidentes.

A pediatra Renata Waksman também alerta para os excessos no ambiente do berço. “Quanto mais estímulos visuais e cores você coloca na caminha do bebê, mais agitado ele fica, o que dificulta o sono”, explica. Em relação aos protetores de berço, ela esclarece que, apesar de parecerem uma solução para evitar que o bebê se machuque, os riscos são maiores. “Mesmo que o bebê bata levemente os bracinhos, as perninhas ou até a cabeça, isso não representa perigo. Por outro lado, um protetor mal colocado, que possa ser escalado, acaba representando um risco bem maior”, complementa a pediatra.

Conclusão

O sono do bebê é uma das áreas mais importantes e, ao mesmo tempo, desafiadoras da parentalidade. Compreender as fases do sono, os desafios comuns e as técnicas para promover uma boa rotina de sono é essencial para garantir que ele tenha o descanso necessário para um desenvolvimento saudável.
Para os pais, a chave está na paciência e consistência. Cada bebê é único e pode reagir de maneiras diferentes às mudanças na rotina ou no ambiente de sono. Contudo, com atenção, dedicação e algumas práticas simples, é possível estabelecer uma rotina de sono do bebê, assegurando que tanto o bebê quanto a família desfrutem de noites mais tranquilas.


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