Prós e contras do uso da chupeta: o que os pais devem saber

O uso da chupeta é um tema amplamente discutido entre pais, profissionais de saúde e especialistas em desenvolvimento infantil. Enquanto muitos acreditam que a chupeta oferece conforto e tranquilidade para os bebês, outros se preocupam com os possíveis impactos negativos que ela pode ter na saúde bucal e no desenvolvimento da criança. 

Também conhecida como bico, a chupeta é um objeto de silicone, látex ou borracha projetado para proporcionar ao bebê uma sensação de conforto e sucção, muitas vezes imitando o ato de mamar. Ela é usada por gerações para acalmar bebês chorosos e ajudá-los a dormir.

“Não existe certo ou errado, mas os pais devem conhecer os riscos e receber orientações para tomar uma decisão consciente”, aponta o pediatra Luciano Borges Santiago. 

O pediatra também alerta que nem sempre o choro é um pedido pelo chupeta; pode ser fome, sono, dor ou reclamação de fralda molhada, e que o uso da chupeta para cessar o choro pode atrapalhar a comunicação de pais e filhos. “A chupeta vira a salvação no fim do dia quando os pais estão cansados e não querem brincar e interagir com os pequeninos”.

Neste artigo, abordaremos os benefícios e os prejuízos do uso da chupeta, as recomendações de especialistas e dicas práticas para os pais que optam por oferecê-la a seus filhos.

Benefícios do uso da chupeta

Embora a chupeta tenha suas controvérsias, ela oferece vários benefícios, especialmente durante os primeiros meses de vida do bebê.
Abaixo, detalhamos alguns dos principais aspectos positivos associados ao seu uso:

Conforto e calmaria para o bebê

Um dos principais benefícios do uso da chupeta é seu efeito calmante. A sucção é um reflexo natural que ajuda a acalmar os bebês, oferecendo conforto em momentos de angústia ou desconforto. Seja durante uma consulta médica, uma viagem de carro ou para ajudar o bebê a dormir, a chupeta pode ser uma ferramenta útil para proporcionar mais tranquilidade aos pequenos.

Ajuda no sono

Muitos bebês têm dificuldade em adormecer e permanecem inquietos durante a noite. A sucção proporcionada pela chupeta pode ajudar a induzir o sono, criando um ambiente mais relaxante.

Redução do risco mortes

A Academia Americana de Pediatria (AAP) recomenda o uso da chupeta a partir do primeiro mês de vida, especialmente durante o sono. Estudos indicam que essa prática pode reduzir significativamente o risco de morte súbita em bebês, um evento trágico e inexplicado. A chupeta, nesse caso, atua como um fator protetor, embora a razão exata para essa associação ainda não seja totalmente compreendida.

Alívio de desconfortos temporários

Além de acalmar o bebê emocionalmente, a chupeta pode ajudar a aliviar desconfortos físicos, como cólicas, dor durante a dentição ou após a vacinação. Ela pode ser uma forma eficaz de distrair a criança em situações que causam dor ou desconforto temporário.

Prejuízos do uso da chupeta

Mesmo que a chupeta ofereça diversos benefícios, também existem riscos e desvantagens associadas ao seu uso prolongado. É importante que os pais estejam cientes desses possíveis efeitos negativos para que possam tomar decisões informadas e equilibradas em relação à introdução e ao uso da chupeta.

Embora a AAP recomende o uso da chupeta para reduzir o risco de morte súbita em bebês, a instituição também alerta para possíveis efeitos negativos da chupeta sobre a amamentação e o desenvolvimento da dentição, recomendando que seu uso seja iniciado apenas após a amamentação estar bem estabelecida ou, em alguns casos, evitado por completo.

“A chupeta não só entorta os dentes como deforma os ossos da boca. Ela faz pressão no céu da boca, empurrando os ossos para cima e para frente e ainda atrapalha a posição de repouso da língua. Aos 3 ou 4 anos, a criança vai precisar de aparelho e, sem ele, a situação só piora na fase adulta”, alerta Gabriel Politano, dentista pediátrico.

A pediatra Daniela Tulio Dias Tescari ressalta que bebês que não usam chupeta tendem a ser mais estimulados e curiosos, o que pode favorecer o desenvolvimento da inteligência. Com a chupeta, eles geralmente ficam mais satisfeitos e buscam menos estímulos externos para explorar o ambiente ao seu redor.

Alguns riscos do uso da chupeta são: 

Problemas de dentição e na musculatura facial

O uso prolongado da chupeta pode causar diversos problemas dentários e faciais nas crianças, como dentes da frente separados, alterações na mordida, alteração da forma da cavidade oral e deformidades na formação óssea da face, tornando o uso de aparelhos ortodônticos necessário. 

Segundo a fonoaudióloga Irene Marchesan, “o ato de sugar o tempo todo pode causar flacidez na musculatura da face e interferir na mastigação e na pronúncia de algumas sílabas”. 

O hábito constante de sugar pode enfraquecer a musculatura facial, interferindo na mastigação e na pronúncia correta de certas sílabas, como T, D, L e N. Isso pode levar a dificuldades na fala, exigindo intervenção profissional para corrigir a posição da língua e aprimorar a articulação das palavras.

Interferência na amamentação

Um dos riscos do uso da chupeta é a possível interferência na amamentação, especialmente nos primeiros dias e semanas de vida do bebê. A introdução precoce da chupeta pode causar o que é conhecido como “confusão de bicos”, em que o bebê tem dificuldade em alternar entre o peito da mãe e a chupeta devido às diferenças na forma de sucção. Isso pode levar a problemas na amamentação, como uma menor ingestão de leite e dificuldade em estabelecer a pega correta.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Ministério da Saúde no Brasil recomendam que a chupeta seja introduzida apenas após a amamentação estar bem estabelecida, geralmente após o primeiro mês de vida, para evitar a confusão de bicos e garantir que o bebê esteja recebendo nutrição adequada através do aleitamento materno.

“Se ainda há dificuldades como pega incorreta, dor e lesões nos mamilos e o bebê não ganha peso, a chupeta pode piorar essa situação”, aponta Kelly Oliveira, pediatra pela Universidade de São Paulo (USP).

Dependência da chupeta

Embora a chupeta possa ser eficaz para acalmar o bebê, o uso excessivo pode levar à dependência emocional da criança, que pode ter dificuldade em se acalmar ou dormir sem ela. Isso pode se tornar um problema quando os pais tentam remover a chupeta da rotina, resultando em choros excessivos, irritabilidade e resistência.

“A chupeta causa, inclusive, dependência física na criança. É como se fosse um objeto de transição, só que prejudicial. Excessos cometidos na fase oral (fase em que os bebês usam a boca para descobrir o mundo e buscar o prazer) são repercutidos tardiamente. O adulto que chupou chupeta em excesso e por tempo prolongado tende a descontar a tensão no cigarro e na comida”, explica o pediatra Moises Chencinski.

Risco de infecções

O uso da chupeta também pode aumentar o risco de infecções, especialmente se ela não for higienizada adequadamente. A chupeta pode se tornar um vetor de bactérias e germes, especialmente quando cai no chão ou é compartilhada com outras crianças. As infecções mais comuns associadas ao uso da chupeta incluem infecções do trato respiratório, candidíase oral (sapinho), verminosos e infecções de ouvido.

Uso da chupeta X Dedo

Tanto a sucção do dedo quanto a utilização da chupeta podem causar danos semelhantes ao organismo das crianças, especialmente quando esses hábitos são frequentes e intensos. 

A fonoaudióloga Irene Marchesan observa que, enquanto a chupeta pode ser controlada, já que pode ser retirada e guardada, o dedo está sempre à disposição da criança, tornando o abandono do hábito mais difícil. Ela menciona que a situação se complica ainda mais quando a chupeta é frequentemente comprada em várias cores, pois isso aumenta a dificuldade de desapego. 

O pediatra Luciano Borges Santiago também reconhece que abandonar esse vício é desafiador, independentemente do objeto, e enfatiza que o apoio e a dedicação dos pais são fundamentais nesse processo. 

Em relação ao tipo de chupeta, seja tradicional ou ortodôntica, o dentista alerta que ambas podem ter as mesmas consequências para a arcada dentária. Por isso, é importante estabelecer limites para o uso da chupeta e considerar sua eliminação até os três anos de idade.

Recomendações para o uso adequado da chupeta

Embora existam riscos associados ao uso da chupeta, esses podem ser minimizados quando os pais seguem orientações adequadas. Abaixo estão algumas recomendações baseadas em diretrizes de especialistas, como a AAP e a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP):


Evite a introdução precoce

Para garantir que a amamentação seja bem estabelecida, recomenda-se que a chupeta não seja introduzida antes que o bebê complete um mês de vida. Isso ajudará a prevenir a confusão de bicos e garantir que o bebê aprenda a mamar corretamente no peito.

Limite o uso

O tempo de uso da chupeta deve ser controlado, evitando o uso constante ao longo do dia. O ideal é oferecê-la em momentos específicos, como na hora de dormir ou em situações de maior desconforto. “Quanto maior o tempo de uso, maior as chances de provocar alterações no desenvolvimento da criança”, diz Viviane Veroni Degan, fonoaudióloga especialista em Motricidade Orofacial.

Mantenha a chupeta limpa

Para evitar infecções, é fundamental manter a chupeta limpa e higienizada. A chupeta deve ser lavada e, quando possível, esterilizada em água fervente. Evite deixar a chupeta exposta ao chão ou em superfícies contaminadas. Se a chupeta cair no chão em locais públicos, é melhor substituí-la por uma nova, se disponível.

Escolha chupetas anatômicas

Alguns fabricantes oferecem chupetas anatômicas, que são projetadas para reduzir a pressão nos dentes e no palato, minimizando o risco de problemas de oclusão. Ao escolher uma chupeta, verifique se ela tem o selo de aprovação de órgãos reguladores e se foi desenvolvida levando em consideração a saúde bucal da criança.

Como remover a chupeta da rotina da criança

Para muitos pais, remover a chupeta da rotina da criança pode ser um desafio. A seguir, apresentamos algumas dicas práticas que podem ajudar nesse processo:

Escolha o momento certo

Evite retirar a chupeta durante momentos de estresse ou em períodos de mudanças significativas na vida da criança, como o nascimento de um irmão ou o início da escola. É importante considerar o tempo de uso da chupeta e escolher um período calmo para começar o processo de transição.

Ofereça alternativas

Substitua a chupeta por outras formas de conforto, como um brinquedo favorito, um cobertor ou até mesmo uma música relaxante. Ajude a criança a desenvolver outras maneiras de se acalmar sem depender da chupeta.

Reduza o uso gradualmente

Em vez de eliminar a chupeta de uma vez, reduza gradualmente os momentos em que ela é oferecida. Comece limitando o uso durante o dia, mantendo-a apenas para a hora de dormir, e depois retire-a também à noite.

A fonoaudióloga Viviane Veroni Degan dá uma dica aos pais para diminuir a frequência do uso da chupeta.  “Toque os lábios da criança com a chupeta, espere ela abocanhá-la e iniciar a sucção. Então segure na argola e puxe-a para trás. A criança terá que sugar com mais força da próxima vez, fazendo com que ela se canse e solte a  chupeta. Neste momento, guarde-a em um local fora do alcance dela”.

Não deixe a chupeta a noite toda

É preciso evitar deixar a chupeta com a criança durante a noite toda, retirando-a logo que ela adormecer para impedir que a sucção se mantenha durante o sono. Além disso, não pendure a chupeta na roupa, pois isso facilita o acesso da criança ao acessório. Também é recomendável não oferecer mais de uma chupeta, pois a simplicidade no uso pode ajudar a controlar o hábito de sucção de maneira mais eficaz.

Considerações finais

O uso da chupeta é uma decisão que envolve uma série de considerações importantes. Enquanto ela pode oferecer conforto e benefícios para o sono e o bem-estar do bebê, também apresenta riscos à saúde bucal e ao desenvolvimento. O uso responsável, aliado à orientação de profissionais de saúde, pode ajudar a minimizar os riscos e garantir que a chupeta seja utilizada de forma segura e eficaz.

Os pais devem estar atentos ao desenvolvimento da criança e buscar orientação médica sempre que tiverem dúvidas. Quando usada com moderação e de acordo com as diretrizes recomendadas, a chupeta pode ser uma ferramenta útil nos primeiros anos de vida, proporcionando tranquilidade e conforto tanto para o bebê quanto para os pais.


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